sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Jonas, o profeta universal

O livro de Jonas é quase totalmente biográfico, havendo, à parte de sua oração no capítulo 2, apenas uma declaração que se possa chamar de profecia (Jonas 3:4). As experiências pessoais dos outros profetas são, às vezes, narradas em seus livros (Comparar com Oséias 1:3; Amós 7:10-15 e Jeremias 1:25-29; 36-38).
I - O homem e sua história - Sabe-se que Jonas foi um personagem histórico. Ele é identificado por quase todos os eruditos como “Jonas, filho de Amitai”, o qual  profetizou a Jeroboão a restauração de Israel aos seus antigos limites (2 Reis 14:25). Sellin declara, sem hesitação nem modificação: “o herói da narrativa é um personagem histórico, que viveu no tempo de Jeroboão II, pouco antes de Amós”. Sua identificação parece estar assegurada, visto que, tanto o nome de Jonas como o de seu pai, não são mencionados em outra parte do Velho Testamento. Ele era natural de Gate-Hefer, na Galiléia, que distava 7 Km. de Nazaré, conhecida pelos árabes modernos como  el Meshed (2 Reis 14:25).
         Quando Jonas foi chamado por Javé para ir a Nínive, a fim de ali pregar, essa tarefa foi-lhe tão repugnante que ele fugiu “da presença do Senhor” (Jonas 1:3,10), indo para Tarsis, ao sudoeste da Espanha, abandonando sua obra profética. Pusey acredita que Jonas, nesse tempo, já era avançado em idade, tendo estado, provavelmente, “na presença do Senhor”, durante anos. (Gênesis 4:16). Jonas era um legítimo cainita.
         Mais adiante, na história, é dito francamente o motivo de Jonas para viajar até o Ocidente, aventurando-se no mar, o que era evitado pelos hebreus, em vez de ir para o Oriente: “E orou ao SENHOR, e disse: Ah! SENHOR! Não foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em benignidade, e que te arrependes do mal” (Jonas 4:2). Sem dúvida ele havia ido a Nínive para certificar-se  de que Deus iria realmente destruir aquela cidade. Mas, sendo um patriota mesquinho, ciumento e vingativo, Jonas não podia entender porque Deus desejava que ele pregasse a um povo que queria devorar Israel. O verdadeiro cristão, ao contrário, deseja o bem estar, até mesmo dos seus inimigos (Lucas 6:27-28).
         Indo a Jope, o principal porto de mar da Terra Santa, ali encontrou um vapor que se fazia ao mar, rumo ao Ocidente. Pagou a passagem e embarcou, descendo até o porão, onde foi dormir, exatamente como o fez Sisera, na tenda da traidora Jael (Juízes 4:21). Sua consciência também ficou adormecida porque Jonas se enganava, achando que logo estaria longe de Deus. Jesus também dormia calmamente durante uma tempestade, segundo Marcos 4:35-41: “E, naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes: Passemos para o outro lado. E eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no barco; e havia também com ele outros barquinhos. E levantou-se grande temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que já se enchia. E ele estava na popa, dormindo sobre uma almofada, e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não se te dá que pereçamos? E ele, despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança. E disse-lhes: Por que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé? E sentiram um grande temor, e diziam uns aos outros: Mas quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?”. Sempre que alguém se propõe a frustrar os planos divinos, contra ele se levanta uma tempestade.
         O mar se enfureceu. Cada marinheiro orava ao seu próprio deus, mas a tempestade continuava. Concluíram, então, que algum deus devia estar ofendido. O piloto do navio foi até Jonas e ordenou-lhe que clamasse ao seu Deus. Jonas, realmente, não tinha Deus. Os marinheiros, convencidos da existência de algum culpado a bordo, lançaram sortes e esta recaiu sobre Jonas. Perguntaram-lhe ansiosamente de onde ele era natural, qual era a sua ocupação, qual era o seu povo e Jonas confessou francamente que estava fugindo “da presença do Senhor”. Naquele momento ele era apenas um pagão naquele navio. Contudo, redimiu-se ao dizer, voluntariamente, que deveriam lançá-lo ao mar, para conseguirem ser salvos. Os marinheiros não queriam oferecer Jonas como um sacrifício humano, até que houvessem consultado o Deus de Jonas: “Então clamaram ao SENHOR, e disseram: Ah, SENHOR! Nós te rogamos, que não pereçamos por causa da alma deste homem, e que não ponhas sobre nós o sangue inocente; porque tu, SENHOR, fizeste como te aprouve. E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria” (Jonas 1:14-15). Vendo isso, os marinheiros ficaram tão impressionados que “ofereceram sacrifício ao Senhor e fizeram votos” (v. 16).
         Dois pequenos versos resumem a história do resgate de Jonas (Jonas 1:17; 2:10). O Senhor preparou um grande peixe para engolir Jonas e nas entranhas deste ele ficou “três dias e três noites”. Duas colunas perto de Alexandria, ao norte de Antioquia, na costa Síria, assinalam o local onde, segundo a tradição, Jonas foi vomitado à terra seca. Contudo Josefo diz que isso aconteceu às margens do Mar Egeu.
         Por ter Jonas reconhecido o seu parentesco com os marinheiros pagãos, teve outra oportunidade para ir pregar aos pagãos de Nínive. Dessa vez ele obedeceu, tornando-se, então, o “primeiro apóstolo aos gentios”. Entrando nas ruas de Nínive, Jonas começou a clamar em sua própria língua materna: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jonas 3:4).
Só podemos imaginar com que prazer o vingativo profeta anunciou essa admoestação. Claro que alguém poderia imaginar que Jonas pronunciou essas palavras solenes como um austero pregador, com a mesma ênfase de um Natã (2 Samuel 12:7) ou de um Paulo (Atos 24:25), ou de um Lutero, cuja ardente sinceridade derreteu os corações hostis. Com uma semelhante monotonia, sem dúvida João Batista iria repetir posteriormente o seu apelo profético: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus” (Mateus 3:2). Jonas falou apenas cinco palavras em Hebraico. Contudo essas eram palavras de condenação, tendo causado grande impacto, a ponto dos ninivitas se arrependerem e em conseqüência proclamarem um jejum e se cobrirem de sacos, em sinal de arrependimento, o que levou Deus a se arrepender do mal que lhes tinha anunciado, não o tendo feito (Jonas 3:5-10).
         Jonas se enojou  com a protelação do Senhor em executar juízo contra aquela cidade má. Ficou revoltado, não por sentir-se desacreditado aos olhos humanos dos ninivitas, nem porque  sua posição de profeta fosse arruinada pelo fracasso de sua pregação, mas pela clemência divina em favor de Nínive. Por que continuaria Deus perdoando uma cidade que vivia prejudicando Israel através da guerra e da exigência de tributos cada vez mais pesados? Na verdade, Jonas estava revoltado por causa do mesquinho patriotismo que o cegava. Por sentir que Deus havia perdido a oportunidade e que, por causa disso, o seu próprio povo, mais cedo ou mais tarde, seria condenado à destruição. Melhor seria morrer, diz ele, do que viver mais tempo neste mundo governado por um Deus assim. Em seu desgosto Jonas se assemelha a Elias (1 Reis 19:1-18). Contudo, houve entre eles uma diferença. Jonas sentiu o mesmo desespero de Elias, porém sem as desculpas deste. A diferença é que Elias sentia zelo por Deus e Jonas sentia ciúmes de Deus.
         Jonas esperava ver Nínive destruída, aguardando o desfecho lá de cima de um monte, a leste de Nínive, onde fazia muito calor. O Senhor admoestou-o contra a sua ira, mas em vão. Para se proteger do cansaço do calor, Deus fez crescer sobre a cabeça de Jonas, com extrema rapidez, uma aboboreira (Ricinus Communis), com o que Jonas muito se alegrou. Porém, com a mesma rapidez, Deus enviou um verme, o qual feriu a aboboreira e esta se secou (Jonas 4:7). Por causa dessa fatal calamidade Jonas se irou novamente e desmaiou, desejando a própria morte (v. 8). Ele havia se irado porque Nínive fora perdoada e agora se irava porque a aboboreira não fora perdoada. O Senhor lhe responde, comparando a aboboreira à cidade e comparando a compaixão e solidariedade de cada um consigo mesmo, terminando, assim, a história (vs. 9-11).
         Seja qual for a nossa opinião  sobre o Livro de Jonas - cujo valor não se pode subestimar - devemos confessar que o próprio Jonas ocupa um lugar inferior no catálogo dos profetas do Velho Testamento. Jonas era um homem egoísta, orgulhoso, briguento, colérico, enfatuado e perverso. Claro que ele era um bom patriota, que amava Israel com lealdade. Como pregador, provavelmente, ele era tão bom como os pregadores daquela época. Ora, quem de nós não terá se regozijado quando numa guerra o inimigo perdeu os seus melhores soldados? Jonas tinha ciúmes dos ninivitas, porém apenas um pouco mais do que sentimos dos nossos inimigos nacionais ou dos pagãos. Os judaizantes dos tempos apostólicos certamente sentiam ciúmes por ter Paulo oferecido o evangelho aos gentios, nos mesmos termos em que este lhes fora oferecido. Se a atitude de Jonas  mudou para com os ninivitas como resultado da admoestação do Senhor, não sabemos.  Mas até onde somos informados, Jonas era um profeta patriota vingativo e sedento de sangue, o qual pregava com extraordinário êxito, sem, contudo, enxergar o seu êxito.
         Em última análise, Jonas era um homem em quem a piedade e o dever sempre estiveram em conflito, um homem temente a Deus tendo, contudo, abandonado a sua tarefa (Jonas 1:3,9). Um homem em quem o espírito de humanidade foi quase afogado pelo patriotismo. Em suma, ele foi um homem, cuja religião residia na emoção, bem mais que na esfera da vontade. Ao contrário de Jonas, Jesus chorou sobre Jerusalém!
III - Os tempos do profeta - Como sabemos, Jonas viveu no tempo de Jeroboão II, rei de Israel do Norte, o qual reinou de 790 até 750 a.C. Jeroboão recebera um reino fraco porque desde o tempo de Jeú, seu bisavô, o povo vinha pagando continuamente tributos à Assíria. Sob Jeroboão, sem dúvida, o povo começou a recobrar suas forças anteriores. Ele tomou Hamate e Damasco, restaurando a  Israel todo o território que se estende desde Hamate até o Mar Morto, conforme Jonas havia predito (2 Reis 14:25). Em verdade Jeroboão foi o mais poderoso de todos os monarcas que se sentaram no trono de Samaria e havia muitas esperanças de prosperidade quanto ao futuro do reino.
         Na Assíria, contudo, as condições prevalecentes eram justamente o oposto. Tudo era desanimador, com a Assíria perdendo terreno. Em outras palavras, Israel crescia, enquanto a Assíria declinava.   O reinado de Adadmirari IV (810-782 a.C) acabava de encerrar-se. Em suas três expedições à Palestina e às terras  ocidentais, ele havia recebido tributos dos heteus, de Tiro e de Sidom “a terra de Omri”, ou seja, Israel do Norte, Sidom e Filístia. E por suas amplas vitórias ele havia se tornado um dos maiores reis da Assíria. Antes dele, nenhum rei assírio havia realmente dominado um território tão extenso, e nenhum havia possuído além disso, um círculo tão grande de estados que lhe pagavam tributo. Foi esse rei quem favoreceu Amenofis IV, da Dinastia XVIII do Egito, uma espécie de monoteísmo religioso, e que deixou uma inscrição notável que diz: “Confia em Nebo. Não confies em outro deus”. Winckler sugere que teria sido Adadmirari quem, como rei de nínive,  deu as boas vindas a Jonas, quando este ali chegou para pregar. Contudo, é mais provável que esse rei já tivesse morrido e que a deterioração moral de Nínive já houvesse começado. Porque depois do seu reinado, acontecera, lenta, mas regularmente, um período de estranha decadência, o qual fizera Jonas desejar que a Assíria decaísse cada vez mais. Sem dúvida aqui se apresenta uma dificuldade pelo fato de que, nesse tempo especial e até o tempo de Senaqueribe (705 a.C), Calah e não Nínive era a capital da Assíria. Contudo, essa dificuldade é facilmente explicada quando se recorda que Calah e Nínive eram apenas nomes diferentes de uma e a mesma cidade, distando cerca de 32 Km uma da outra. E que Nínive não é realmente chamada de capital da Assíria no livro de Jonas. Segundo Cetesias e Deodoro “pode ser que Nínive significasse uma província, isto é, a própria Assíria entre os quatro rios”. A verdadeira extensão da cidade, como nos diz Deodoro, era de 1.800 acres. De todas as maneiras sabemos que Nínive era uma cidade antiga, tendo sido fundada por Ninrode (Gênesis 10:11), a qual é mencionada duas vezes nas cartas de Te-el-Amarna, carta que data de 800 anos antes de Jonas. Os monumentos também informam que o seu povo estava entre os mais violentos e cruéis de todas as nações da antiguidade. Foi nessa cidade, portanto, e em tempos muito desanimadores para a Assíria, mas não para Israel, que Jonas foi comissionado a pregar.
III - Análise do Livro - As divisões em capítulos assinalam as suas divisões naturais.
Cap. 1 - A desobediência de Jonas, o qual “fugiu da presença do Senhor”.
Cap. 2 - Sua oração ouvida por Javé.
Cap. 3 - Sua pregação em Nínive -Jonas levantou-se e foi a Nínive.
Cap. 4 - Suas queixas culpando o Senhor.
IV – Os dois grandes milagres - Ambos são caracteristicamente orientais.
1. - O grande peixe – Provavelmente nenhuma outra história na Bíblia tem causado tantas alusões enganosas, tanta irritação tola, tanta mofa velhaca e tanta exposição errada como “a história de Jonas e a baleia”. Como diz Moore: “Quase poderia ser dito que o monstro marinho tragou os comentaristas, assim como tragou o profeta”. Os detalhes de um incidente comparativamente trivial têm sido indevidamente exagerados, colocando-se ênfase nas coisas que não têm valores supremos. Alguns expositores têm sido tão imprudentes que têm levado a crer na maravilha do peixe como uma prova de ortodoxia. Porém, sem dúvida, não foi o propósito do autor que pensássemos tanto na baleia a ponto de nos esquecermos de Deus! Num sentido muito verdadeiro, claro que a introdução do peixe nas solenidades da história não foi uma coisa ridícula, porque aquele peixe fez o profeta!
         A questão não é se pode existir um peixe desse tamanho, a ponto de tragar um homem sem o mutilar. Tubarões gigantes brancos têm sido capturados e a baleia conhecida tecnicamente como “catodon macrocephalus”, a qual poderia tragar não apenas o profeta mas até cavalos. Por exemplo, aquela que foi capturada na costa da Flórida, em 1912, a qual se encontra no museu do Instituto Smithsoniano, em Washington, D.C., com 14,4 metros de comprimento, pesando 14,8 toneladas, e que tinha no estômago, ao ser capturada, um peixe de, aproximadamente, 680 Kg.
         É de muito maior importância a questão de como o profeta continuou vivo nas entranhas de um peixe, por três dias e três noites. Ao citarem-se analogias, dão-se explicações. Outro exemplo é o caso do marinheiro que em 1758 caiu de um barco no Mediterrâneo e foi tragado por um tubarão, o qual, por sua vez, ao ser ferido por uma bala de canhão, o vomitou são e salvo. Também existe o caso de um índio tragado por um tubarão e encontrado ainda com vida, após ter sido o animal capturado e aberto, tendo o índio falecido logo depois. O finado professor Macloskie, de Princeton, explicou o caso especial de Jonas, supondo que o profeta “ficou na cavidade da laringe, onde podia respirar mais facilmente do que se estivesse no estômago, onde, provavelmente teria sido sufocado”.
         Contudo, essas explicações apologéticas do fenômeno são frívolas e indignas. Porque ou o incidente é histórico e, portanto, um milagre genuíno, ou é uma anedota oriental sem fundamento algum, não proposto nem ensinado. A declaração de que Jonas esteve no ventre do peixe por “três dias e três noites” (Jonas 11:17) é a maneira oriental de expressar o fato de que ele esteve tanto tempo dentro de um peixe e que, se não fora pelo poder sustentador de Deus, estaria morto e fora da possibilidade humana de ser restaurado à vida (Comparar com João 11:17).  O autor, estamos certos, pensava representar a conservação de Jonas na morte ou o seu regresso à vida, como algo sobrenatural.
2. - A conversão de Nínive - Está é a maior maravilha das duas. A do peixe era física, esta é moral. Para muitos a idéia de que uma grande cidade se arrependeu, de repente, através da pregação de um hebreu estrangeiro, é inacreditável.  Nínive era a Londres do tempo de Jonas, tendo sido construída com despojos de guerra. Era populosa, tendo mais de 600 mil habitantes [dos quais presumivelmente 120 mil crianças] (Jonas 4:11). Também era opulenta, orgulhosa e bem fortificada. Seus muros, como afirma Deodoro, tinham 30 metros de altura. Dentro de sua área havia hortas e jardins e talvez até prados para o muito gado (Jonas 4:11). É descrita como uma  “cidade muito grande” para Deus (Jonas 3:3), frase que expressa o hábito devoto da mente hebraica, a qual reconhece Deus em tudo. O livro dá a entender que Jonas foi comissionado a pregar numa cidade nada obscura, o que se constituía em grande tarefa.
         Nínive também é descrita como uma cidade “de três dias de caminho” , uma expressão tipicamente  oriental. Nada tem a ver com o diâmetro ou com a circunferência da cidade. Deodoro a descreve como tendo 480 estádios, cerca de 96 Km. As cidades orientais em geral são construídas de maneira muito compacta. O fato é mais bem referido pela necessidade de três dias para ser visitada em todos os seus pontos principais e de interesse. Por exemplo, um natural da Palestina iria responder, atualmente, do mesmo modo. O autor deste comentário certa vez perguntou em Nazaré: “Qual das duas cidades é melhor: Nazaré ou Beirute?” A resposta imediata foi “Ó, Beirute é uma cidade de três dias”, referindo-se à superioridade do seu tamanho.
         Entrando em Nínive, “caminho de um dia” (Jonas 3:4), Jonas começou a pregar e através de sua severa e misteriosa mensagem de arrependimento logo aconteceu um pânico generalizado. Pela primeira vez na história da cidade a sabedoria clamava através de suas ruas (Pv. 1:20). Jamais poderemos entender o efeito mágico, e quase trágico,  de sua mensagem, até que apreciemos a seriedade com que ele, como um oriental, a anunciava. E também o caráter psicológico dos ninivitas. Jonas mostrava no semblante o ardor do sobrenatural. Depois daquela experiência no mar, provavelmente ele pregou como alguém que fora levado à morte. Sem dúvida o seu rosto resplandecia com a glória de Deus, como o de Moisés. Seus olhos brilhavam na fronte sisuda, enquanto seus lábios clamavam: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida!”  (Jonas 3:4). Macauley descreve a oratória de Demóstenes como “a razão ardendo com a paixão”. Jonas descarregava trovões e relâmpagos de oratória divina. Parece que o profeta havia morrido e voltado à vida. Às vezes é preciso haver uma experiência como a dele para que seja produzido um bom pregador.
         Os ninivitas eram ignorantes e supersticiosos, especialmente nesse período em que a rebelião era crônica. Muitas de suas províncias e a cidade estavam sempre em perigo de sitiadores, que poderiam chegar aos seus portões, a qualquer momento, daí ficarem facilmente amedrontados. Em geral é fácil amedrontar os orientais até o ponto em que se tornam fanáticos, anunciando a vinda de algum juízo que seja temido. Por isso Belsazar ficou tão apavorado com a escritura na parede (Daniel 5:5-6). Do mesmo modo, Herodes, o Grande, ao ouvir o anúncio dos magos, “perturbou-se, e toda Jerusalém com ele” (Mateus 2:3). O arqueólogo Layard relata como um sacerdote católico, em certa ocasião, assustou toda uma população maometana, anunciando um terremoto. Quatro anos antes da destruição de Jerusalém, no Ano 70 d.C, um rústico ignorante chamado Jesus Ben Anan, de repente começou a proclamar ao povo, durante a Festa dos Tabernáculos, gritando repetidas vezes: “Uma voz do Oriente, uma voz do Ocidente, uma voz dos quatro ventos, uma voz sobre Jerusalém e o Templo, uma voz sobre os noivos e noivas, uma voz sobre todo o povo!”. A cidade se assustou terrivelmente. Sabe-se, por crônicas antigas, que, pouco antes da verdadeira queda de Nínive, os governantes da cidade haviam ordenado um solene jejum de 100 dias para suplicar ao deus Sol que lhes perdoasse os pecados.
         Assim, a admoestação solene e imperiosa de Jonas, pronunciada em tons veementes e impetuosos, como o breve sermão de Pedro no Dia de Pentecostes, despertou a consciência adormecida dos ninivitas, que ficaram tomados de pânico pelo temor da iminente calamidade. E logo foi  proclamado um jejum e que se vestissem de sacos (Jonas 3:5). E quando o rei ouviu o que acontecia, “levantou-se do seu trono, e tirou de si as suas vestes, e cobriu-se de saco, e sentou-se sobre a cinza” (v. 6). Idênticas Expressões de temor e arrependimento eram comuns entre os antigos. Heródoto nos conta como os persas cortaram as crinas dos cavalos e de suas bestas de carga, a fim de que parecessem estar participando do luto da  nação, por causa de certo general chamado Masistio, que caiu em Platéia. E Xenofonte relata que “quando chegou a Atenas a notícia da destruição de sua  frota em Egospotami, o clamor e a angústia começaram no Pireo e se espalharam por toda a cidade e naquela noite ninguém dormiu por causa da angústia e do terror do passado, do futuro e por causa do remorso”. Porque sentiam que o que lhes sobrevinha era uma retribuição de sua própria crueldade traidora e atroz com Egina, Melos e Scione. O mundo, apesar de tudo, é regido não pela verdade, mas pela opinião. Um verdadeiro profeta jamais carece de aliados.
         O arrependimento dos ninivitas não foi, imagina-se, um arrependimento no sentido cristão. Foi como o de Jonas no navio, temporário e superficial, gerado apenas até onde chegava a sua capacidade intelectual e religiosa, o qual perdura somente enquanto existe o medo. Seu único argumento foi: “Quem sabe se se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos?” (Jonas 3:9). O maior de todos os milagres é o milagre da GRAÇA.
V - A melhor interpretação -  Há três opiniões: a mítica, a histórica e a alegórica.
1). - Interpretação Mítica - Simpson nos garante que quando o Livro de Jonas é considerado um mito ou lenda “então tudo se torna pequeno”. Segundo essa interpretação, o neófito mítico no livro de Jonas recebe ordem de ir a Nínive, porém desobedece e embarca num navio para Tarsis, quando na imaginação do autor desaba uma tempestade e o iniciado é arrojado ao mar, isto é, ao Sheol ou sepulcro, sendo o peixe uma figura do “ventre do inferno” (v. 2:2). Porém depois de três dias ele é levantado novamente e restaurado à vida. Isso, pretende Simpson, é análogo a outros muitos contos e rituais antigos, em que a morte simulada é seguida de um renascimento na que fora considerada uma nova pessoa ou uma outra vida, esquecendo-se com freqüência o noviço de quanto havia conhecido antes. Os Mistérios Eleusianos, em que a história de Demétrio e Cora foi representada como um drama por sacerdotes e sacerdotisas, eram desse mesmo tipo iniciatório. Uma espécie de “drama místico”. Os ritos iniciatórios foram, desse modo, regeneradores em seu simbolismo. A história de Jonas, segundo Simpson, era uma lenda iniciatória. O próprio nome “Jonas” significa “pomba”, sendo para ele uma forte evidência do caráter mítico do profeta, como Afrodite, a quem a pomba era consagrada, saiu do mar. Da mesma maneira Simpson mostra que o Êxodo dos israelitas da terra do Egito era uma lenda iniciatória. Assim também a ressurreição, assim também Salomão, que era o deus peixe, sendo este no Grego o nome místico de Cristo. Como evidência Simpson apela a Agostinho, que disse: “Descendo vivo às profundezas desta vida mortal, como faria o abismo das águas”. E mais especialmente Tertuliano, que diz explicitamente: “Somos pequenos peixes em Cristo, o nosso grande peixe. Porque somos nascidos em água e somente nela podemos estar salvos”.
         Claro que existe muito de atrativo nesta opinião sobre o livro de Jonas, mas à interpretação de Simpson falta tudo para seja conveniente.
2). - Interpretação histórica - Segundo esta a história de Jonas é historicamente certa, estando embasada nos fatos e na experiência do profeta. A prova desta opinião tem várias considerações de importância. Vejamos:
1. A forma do próprio livro - que é a de uma narrativa resumidamente histórica e assim foi vista, tanto pelos judeus como pelos cristãos, até o primeiro século d.C.
2. O livro de Tobias (Tb. 14:4-8) datado do século 2 a.C e o livro III Macabeus (6:8) datado do século 1 a.C., assim como as Antiguidades de Josefo Vol. IX, 10, 2, escritos até o final do século 1 d.C, todos tratam do chamamento de Jonas e de sua pregação em Nínive como um fato verídico.
3. Jonas não foi o único profeta do Velho Testamento a ter ministrado às nações estrangeiras. Comparem-se a missão de Elias em Sarepta (1 Reis 17:8 e seguintes) e com Oséias 5:13.
4. A maioria dos críticos modernos está de acordo em que existe algo de verdade na história de Jonas, pelo menos em que este realmente esteve pregando em Nínive.
5. Acrescente-se a isso a idêntica experiência doméstica do profeta Oséias (Oséias 1:3) e assim o naufrágio de Jonas tem um paralelo trágico. De fato, ambos os profetas foram “vocacionados” por meio de providências muito maravilhosas de Deus [Romanos 8:28].
3.) - Interpretação alegórica ou parabólica - Esta opinião repousa sobre a convicção de que mesmo que haja milagres genuínos na Bíblia, Deus não está acostumado a fazer milagres do gênero descrito no Livro de Jonas. Porque se a história é literalmente correta, então o êxito de Jonas eclipsa o de todos os outros profetas do Velho Testamento, até mesmo a vitória de Elias no Carmelo (1 Rs. 18). Se a história é literalmente certa, então por que são passados por alto certos detalhes históricos, tais como os pecados e o nome do rei de Nínive, o tamanho da cidade e o efeito da repreensão sobre Jonas?
         Portanto, argumenta-se que Jonas não passa de mero indivíduo na história, um tipo humano, um profeta simbólico histórico, e que os fatos dessa história são de menos importância que as lições ensinadas. De fato em Jonas “estamos numa terra de maravilhas”, sendo essa história apenas poesia semelhante ao caráter do Livro de Jó e às parábolas do Filho Pródigo, do Bom Samaritano e do Peregrino (de Bunyan). Que ela ostenta em todas as partes os sinais da alegoria, do símbolo e da parábola. Desse modo, Jonas é apresentado como o representante de Israel; o peixe como o cativeiro de Israel na Babilônia, etc. De fato, Nabucodonosor é descrito em Jeremias 51:34,41 como tendo “tragado” Israel (Comparar com Oséias 6:1-2). Há também muitas outras alegorias no Velho Testamento, como por exemplo a de Natã apresentada a Davi (2 Samuel 12:1-7), da mulher de Tecoa (2 Samuel 14:1-10), do prisioneiro posto em liberdade por um profeta anônimo que falou com Acabe (1 Reis 20:39-41), e outras.
         Contudo, há duas objeções sérias, senão fatais a esta interpretação:
1. - Nenhuma outra alegoria em todo o Velho Testamento em como herói uma pessoa histórica. Os novelistas modernos podem produzir o que chamamos novela histórica, porém, até onde sabemos, os hebreus jamais o fizeram. Além disso, o autor havia apenas condenado um profeta sem culpa, no tempo de Jeroboão, a semelhante ignomínia perdurável, a menos que tivesse algum fundamento histórico substancial e certo para a história. O esforço que tem sido feito por um autor para encontrar um paralelo no Novo Testamento, na parábola das minas, que se supõe ser embasada nos incidentes bem conhecidos da visita de Herodes, o Grande, e Arquelau a Roma, é sugestivo do fato de que Jonas não tenha analogia. A parábola do Homem Rico e Lázaro e sua referência ao “seio de Abraão” não faz com que Abraão seja o herói da parábola.  Era bem mais o nome comum no tempo de Cristo para significar “paraíso” ou “céu”. Se o Livro de Jonas é uma alegoria ou parábola, então o herói da história não pode ser o Jonas histórico de 2 Reis 14:25. É bem melhor supor que esse herói também é parabólico. Budde evidentemente sentia a força deste argumento; porque explica o livro como “Midrash” sugerido de fato pela 2 Reis 14:25, pertencendo, contudo, ao maior “livro dos reis” mencionado no 2 Crônicas 24:27.
2. - Outra objeção a esta interpretação é a presença do milagre nele contido. Qualquer coisa milagrosa é diretamente contrária ao mesmo gênero da alegoria ou parábola. Por sua natureza as  parábolas e alegorias se opõem a tudo que é grotesco e inacreditável. Nelas o pensamento e o fato são a mesma coisa e a verdade é aceita facilmente por ser evidenciada. A história do peixe, portanto, e da conversão dos ninivitas destroem completamente a natureza de uma parábola ou de uma alegoria, conforme as conhecemos na Bíblia.
VI - O emprego de Jonas por Nosso Senhor - Nos sinóticos é dito duas vezes que os escribas e fariseus suplicaram que Jesus lhes desse um sinal de sua condição messiânica e Ele contestou por duas vezes, citando-lhes o caso do profeta Jonas e sua pregação em Nínive (Mateus 12:38-42 e 16:4; Lucas 11:29-32). É possível que o uso deste livro feito por Nosso Senhor possa ajudar-nos a interpretá-lo. É estranho que tantos expositores modernos ignorem por completo essa possibilidade. Naturalmente vamos fazer duas perguntas: a) - Do que buscavam os escribas e fariseus um sinal? Do seu caráter, missão, pretensões messiânicas, o seu direito como judeu de pregar uma redenção universal sobre a base do arrependimento. Ou do que? b) - Em que sentido Ele dava a entender que nenhum sinal lhes seria dado a não ser o do profeta Jonas?
         O resumo da resposta de Nosso Senhor parece ser este: “Assim como Jonas pregou o arrependimento a todos os homens, incluindo gentios, assim eu faço. Assim como Jonas teve que morrer, por assim dizer, antes de ser usado por Deus no cumprimento de sua missão, o mesmo acontecerá comigo. E assim  como ele morreu em sentido muito verdadeiro, como um substituto pelo seu povo, isso mesmo tenho de fazer. Os homens de Nínive, sem dúvida, corresponderam à mensagem de arrependimento que lhes foi entregue por Jonas; contudo, vós não me dais ouvidos. Por isso eles se levantarão em juízo e os condenarão porque há muito mais coisas que vos chamam ao arrependimento do que aquelas que os chamaram!”. Assim Jesus repreende os escribas e fariseus por insistirem em provas externas. Como Ele sabia, é raro convencer homens que não têm a luz em si. E o próprio Jonas não fez milagre.
         Porém o assunto que nos concerne principalmente é este: Nosso Senhor usou o livro de Jonas como história, como parábola ou como outra coisa? Na mesma conexão ele prossegue falando: “A rainha do meio-dia se levantará no dia do juízo com esta geração, e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é maior do que Salomão” (Mateus 12:42). Certamente parece improvável que no mesmo contexto o Senhor tivesse misturado nomes reais e fictícios. Se a narrativa da Rainha do Meio dia (ou do Sul) foi um fato histórico e a de Jonas fosse uma ficção, provavelmente Jesus teria discernido entre elas por uma questão de honestidade intelectual.
         Porém negar a historicidade do livro de Jonas de modo nenhum envolve uma negação de Cristo e sua ressurreição. Todo o assunto é em sentido muito verdadeiro, sendo mais uma questão de interpretação do que de fé.  Certamente não podemos tomar ao pé da letra tudo que Jesus falou sobre Jonas. Por exemplo, Jesus não esteve literalmente três dias e três noites no seio da terra (Mateus 12:40) e por isso não devemos escavar sobre este ponto tão difícil. Jesus usava com freqüência grande amplitude ao interpretar o Velho Testamento e muitas vezes Ele mesmo falou em parábolas. Por isso Ele pode ter assimilado o profundo simbolismo do livro de Jonas como sendo do mesmo gênero. Em certa ocasião Ele até predisse a sua própria morte violenta por meio da parábola dos lavradores maus (Mateus 21:33-39). Obviamente o seu objetivo principal ao citar Jonas como um sinal para os fariseus eram os três dias de Jonas no ventre do grande peixe e o arrependimento dos ninivitas, apoiando a relação de causa e efeito. E que como Jonas morreu e ressuscitou, tendo êxito na pregação, assim o Filho do Homem deveria morrer e ressuscitar para que os homens cressem nele. Orelli percebe a verdadeira significação da referência de nosso Senhor, quando diz: “Quem quiser, então, sinta a grandeza religiosa do livro e aceite como autoridade a atitude do próprio Filho de Deus com relação à sua significação histórica. Que seja conduzido a aceitar o grande feito divino de baixar ao hades e voltar a levantar-se, como uma experiência atual de Jonas em sua fuga do Senhor”.
VII - Ensino permanente - O autor do Livro de Jonas ensina a teologia mais sublime do Velho Testamento. Na generosidade, no amor pela humanidade e na apreciação do caráter de Deus, este livrinho é preeminente como o mais nobre, o mais liberal e o mais cristão de toda a literatura do vetero-testamentária. Ele contém uma verdade muito avançada para a época de Jonas, verdade que não perderá o valor, enquanto os homens tiverem coração e apreciarem o evangelho. Segundo Jerônimo, Cipriano converteu-se através desse livro. Cornill testifica que “não se pode abrir este maravilhoso livro ou sequer falar dele sem ter os olhos marejados de lágrimas”. Sellin o considera “uma das jóias mais preciosas da literatura hebraica”. Vamos destacar algumas das grandes verdades por ele sugeridas:
1. - A universalidade da graça divina - sendo esta a principal lição do livro. O autor a preserva até o fim (Jonas 4:10,11) e termina o livro dando-lhe ênfase. É a imagem de João 3:16 no Novo Testamento: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.  Terêncio expressa um pensamento famoso e muito citado, semelhante ao que é ensinado no livro, quando diz: “Sou homem e não considero nada estranho para mim de quanto é humano”. Porém o autor de Jonas nos diz melhor o que Deus pensa das massas. Como um grande estadista missionário, ele antecipa a universalidade do programa evangélico de Jesus. Para o autor de Jonas, Deus não é uma divindade restrita a uma tribo. Os pagãos, assim como a descendência de Abraão, estão incluídos na eleição divina.
Porque o amor de Deus é mais amplo
que a medida da mente humana.
E o coração do Eterno
é maravilhosamente bondoso”.
Como diz Teodoreto: “O Livro de Jonas  prefigura a pregação do evangelho sobre toda a terra”.  Sem dúvida ele revela o coração da Bíblia e faz sua própria apelação silenciosa em favor de missões estrangeiras.
2. - Um patriotismo mais alto - Contrastando com  o patriotismo de espírito mesquinho e depreciável de Jonas, o qual representava sua nação, o autor nos dá, como já vimos, a descrição de um Deus amoroso, paternal e universal. A comparação tinha o propósito de repreender asperamente Israel pelo seu fanatismo e dureza de coração. Era uma repreensão inconsciente ao espírito do “irmão mais velho” na parábola do Filho Pródigo, que não havia se pronunciado. Jonas era intensamente patriota, embora também fosse ciumento e vingativo. Seu patriotismo era do tipo comum, baixo e estreito, portanto falso. O patriotismo de muitos cristãos não é melhor.
         George Adam Smith fala do terrível ódio do turco infiel contra as igrejas orientais da Turquia, na atualidade. Ele diz: “Durante séculos não tem havido qualquer intercâmbio espiritual entre eles. Procurar converter um muçulmano tem sido por mil e duzentos anos um crime capital. Certa vez indaguei a um leigo culto e devoto da Igreja Grega:Por que, então, criou Deus tantos muçulmanos?’ A calorosa resposta veio num instante: ‘Para poder encher o inferno’ ” Contudo, esse espírito não está, de modo algum, limitado ao Oriente. Pelo  contrário, este é o verdadeiro patriotismo ensinado no livro de Jonas, inclusive em outras nações e também entre os povos pagãos.
3. - O caráter condicional da profecia – especialmente as ameaças de Deus. Ewald opina ser este o principal objetivo do livro. Ele ensina que quando Deus ameaça, suas ameaças são sempre condicionais. O livro nos dá uma ilustração prática de Jeremias 18:7-8 e de Ezequiel cap. 33.  Os ninivitas sentiam, como todos nós temos o direito de sentir, que quando Deus ameaça, está prometendo. Quando Ele se acerca, de qualquer maneira é para a nossa salvação, ou como dizem os teólogos mais antigos: “Deus não tem obrigação de cumprir suas promessas” [E como arrepender-se é também um ato divino, Deus muitas vezes se arrepende do mal que ia fazer]. A consciência despertada sente, instintivamente, que as ameaças divinas não podem ser as últimas palavras que Deus nos dirige e que devem ter sido feitas sem a obrigação de serem cumpridas. De fato, o castigo por meio do arrependimento pode ser transformado em salvação.
4. -  O segredo da pregação efetiva - O livro contém uma lição especial para os pregadores. Ele ensina que para ser um pregador efetivo, alguém precisa morrer primeiro, por assim dizer, e em seguida renascer, como aconteceu com Jonas. “O caminho da cruz é o caminho da luz”. Esta é a lei da profecia efetiva em todas as  partes do mundo. Somos mais facilmente conduzidos ao arrependimento e ao Senhor por meio do sacrifício vicário de Jesus... Todo verdadeiro cristão precisa ter no coração um lugar reservado a toda a humanidade.
5. - A necessidade da obediência -  Esta é a lição mais patente no Livro de Jonas. Ele tentou fugir da presença do Senhor. Contudo, homem nenhum pode escapar do seu destino divinamente assinalado, nem evitar a vontade de Deus em sua vida. É tão mau quanto inútil evitar um dever que nos é imposto por Deus.
VIII - Canonicidade - Kirkpatrick em sua obra “Doutrina dos Profetas” excluiu o livro de Jonas, “porque não é uma narrativa de ensino de um profeta, mas a narrativa da obra de um profeta”. Mesmo assim ele não teve coragem de excluí-lo do Cânon. Jamais existiu uma evidência de que o livro de Jonas tivesse corrido o perigo de ser excluído do seu lugar entre os escritores canônicos. Seu espírito e seu ensino não apenas são iguais aos de todos os outros profetas do Velho Testamento, como se equiparam com os maiores dentre estes. Foi, então, um justo instinto que moveu os organizadores do Cânon a incluir este livro, colocando-o entre os profetas menores. Konig procura explicar o seu exato lugar entre os Doze, como vindo depois de Obadias, por causa de uma frase com a qual ele começa: “...Temos ouvido a pregação do SENHOR, e foi enviado aos gentios um emissário...” (Obadias 1:1). Jonas teria sido esse mensageiro e por isso o seu livro tem sido às vezes chamado de “O Comentário de Deus Sobre Obadias”. Os judeus costumam ler este livro no Grande Dia da Propiciação.
The Tweve Minor Prophets”, George L. Robinson
Publicado por George H. Doran Co, New York, 1926
Traduzido por Mary Schultze, março/abril 2004
Citações bíblicas da Bíblia Revisada FIEL de Almeida

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