O livro de Jonas é quase totalmente
biográfico, havendo, à parte de sua oração no capítulo 2, apenas uma
declaração que se possa chamar de profecia (Jonas 3:4). As experiências
pessoais dos outros profetas são, às vezes, narradas em seus livros
(Comparar com Oséias 1:3; Amós 7:10-15 e Jeremias 1:25-29; 36-38).
I - O homem e sua história -
Sabe-se que Jonas foi um personagem histórico. Ele é identificado por
quase todos os eruditos como “Jonas, filho de Amitai”, o qual
profetizou a Jeroboão a restauração de Israel aos seus antigos limites
(2 Reis 14:25). Sellin declara, sem hesitação nem modificação: “o herói da narrativa é um personagem histórico, que viveu no tempo de Jeroboão II, pouco antes de Amós”.
Sua identificação parece estar assegurada, visto que, tanto o nome de
Jonas como o de seu pai, não são mencionados em outra parte do Velho
Testamento. Ele era natural de Gate-Hefer, na Galiléia, que distava 7
Km. de Nazaré, conhecida pelos árabes modernos como el Meshed (2 Reis
14:25).
Quando Jonas foi chamado por
Javé para ir a Nínive, a fim de ali pregar, essa tarefa foi-lhe tão
repugnante que ele fugiu “da presença do Senhor” (Jonas 1:3,10), indo
para Tarsis, ao sudoeste da Espanha, abandonando sua obra profética.
Pusey acredita que Jonas, nesse tempo, já era avançado em idade, tendo
estado, provavelmente, “na presença do Senhor”, durante anos. (Gênesis
4:16). Jonas era um legítimo cainita.
Mais adiante, na história, é
dito francamente o motivo de Jonas para viajar até o Ocidente,
aventurando-se no mar, o que era evitado pelos hebreus, em vez de ir
para o Oriente: “E orou ao
SENHOR, e disse: Ah! SENHOR! Não foi esta minha palavra, estando ainda
na minha terra? Por isso é que me preveni, fugindo para Társis, pois
sabia que és Deus compassivo e misericordioso, longânimo e grande em
benignidade, e que te arrependes do mal”
(Jonas 4:2). Sem dúvida ele havia ido a Nínive para certificar-se de
que Deus iria realmente destruir aquela cidade. Mas, sendo um patriota
mesquinho, ciumento e vingativo, Jonas não podia entender porque Deus
desejava que ele pregasse a um povo que queria devorar Israel. O
verdadeiro cristão, ao contrário, deseja o bem estar, até mesmo dos seus
inimigos (Lucas 6:27-28).
Indo a Jope, o principal porto
de mar da Terra Santa, ali encontrou um vapor que se fazia ao mar, rumo
ao Ocidente. Pagou a passagem e embarcou, descendo até o porão, onde foi
dormir, exatamente como o fez Sisera, na tenda da traidora Jael (Juízes
4:21). Sua consciência também ficou adormecida porque Jonas se
enganava, achando que logo estaria longe de Deus. Jesus também dormia
calmamente durante uma tempestade, segundo Marcos 4:35-41: “E,
naquele dia, sendo já tarde, disse-lhes: Passemos para o outro lado. E
eles, deixando a multidão, o levaram consigo, assim como estava, no
barco; e havia também com ele outros barquinhos. E levantou-se grande
temporal de vento, e subiam as ondas por cima do barco, de maneira que
já se enchia. E ele estava na popa, dormindo sobre uma almofada, e
despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não se te dá que pereçamos? E ele,
despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E o
vento se aquietou, e houve grande bonança. E disse-lhes: Por
que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé? E sentiram um grande temor, e
diziam uns aos outros: Mas quem é este, que até o vento e o mar lhe
obedecem?”. Sempre que alguém se propõe a frustrar os planos divinos, contra ele se levanta uma tempestade.
O mar se enfureceu. Cada
marinheiro orava ao seu próprio deus, mas a tempestade continuava.
Concluíram, então, que algum deus devia estar ofendido. O piloto do
navio foi até Jonas e ordenou-lhe que clamasse ao seu Deus. Jonas,
realmente, não tinha Deus. Os marinheiros, convencidos da existência de
algum culpado a bordo, lançaram sortes e esta recaiu sobre Jonas.
Perguntaram-lhe ansiosamente de onde ele era natural, qual era a sua
ocupação, qual era o seu povo e Jonas confessou francamente que estava
fugindo “da presença do Senhor”. Naquele momento ele era apenas um pagão
naquele navio. Contudo, redimiu-se ao dizer, voluntariamente, que
deveriam lançá-lo ao mar, para conseguirem ser salvos. Os marinheiros
não queriam oferecer Jonas como um sacrifício humano, até que houvessem
consultado o Deus de Jonas: “Então
clamaram ao SENHOR, e disseram: Ah, SENHOR! Nós te rogamos, que não
pereçamos por causa da alma deste homem, e que não ponhas sobre nós o
sangue inocente; porque tu, SENHOR, fizeste como te aprouve. E
levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria” (Jonas 1:14-15). Vendo isso, os marinheiros ficaram tão impressionados que “ofereceram sacrifício ao Senhor e fizeram votos” (v. 16).
Dois pequenos versos resumem a
história do resgate de Jonas (Jonas 1:17; 2:10). O Senhor preparou um
grande peixe para engolir Jonas e nas entranhas deste ele ficou “três
dias e três noites”. Duas colunas perto de Alexandria, ao norte de
Antioquia, na costa Síria, assinalam o local onde, segundo a tradição,
Jonas foi vomitado à terra seca. Contudo Josefo diz que isso aconteceu
às margens do Mar Egeu.
Por ter Jonas reconhecido o seu
parentesco com os marinheiros pagãos, teve outra oportunidade para ir
pregar aos pagãos de Nínive. Dessa vez ele obedeceu, tornando-se, então,
o “primeiro apóstolo aos gentios”. Entrando nas ruas de Nínive, Jonas
começou a clamar em sua própria língua materna: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jonas 3:4).
Só podemos imaginar com que prazer o
vingativo profeta anunciou essa admoestação. Claro que alguém poderia
imaginar que Jonas pronunciou essas palavras solenes como um austero
pregador, com a mesma ênfase de um Natã (2 Samuel 12:7) ou de um Paulo
(Atos 24:25), ou de um Lutero, cuja ardente sinceridade derreteu os
corações hostis. Com uma semelhante monotonia, sem dúvida João Batista
iria repetir posteriormente o seu apelo profético: “Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus”
(Mateus 3:2). Jonas falou apenas cinco palavras em Hebraico. Contudo
essas eram palavras de condenação, tendo causado grande impacto, a ponto
dos ninivitas se arrependerem e em conseqüência proclamarem um jejum e
se cobrirem de sacos, em sinal de arrependimento, o que levou Deus a se
arrepender do mal que lhes tinha anunciado, não o tendo feito (Jonas
3:5-10).
Jonas se enojou com a
protelação do Senhor em executar juízo contra aquela cidade má. Ficou
revoltado, não por sentir-se desacreditado aos olhos humanos dos
ninivitas, nem porque sua posição de profeta fosse arruinada pelo
fracasso de sua pregação, mas pela clemência divina em favor de Nínive.
Por que continuaria Deus perdoando uma cidade que vivia prejudicando
Israel através da guerra e da exigência de tributos cada vez mais
pesados? Na verdade, Jonas estava revoltado por causa do mesquinho
patriotismo que o cegava. Por sentir que Deus havia perdido a
oportunidade e que, por causa disso, o seu próprio povo, mais cedo ou
mais tarde, seria condenado à destruição. Melhor seria morrer, diz ele,
do que viver mais tempo neste mundo governado por um Deus assim. Em seu
desgosto Jonas se assemelha a Elias (1 Reis 19:1-18). Contudo, houve
entre eles uma diferença. Jonas sentiu o mesmo desespero de Elias, porém
sem as desculpas deste. A diferença é que Elias sentia zelo por Deus e
Jonas sentia ciúmes de Deus.
Jonas esperava ver Nínive
destruída, aguardando o desfecho lá de cima de um monte, a leste de
Nínive, onde fazia muito calor. O Senhor admoestou-o contra a sua ira,
mas em vão. Para se proteger do cansaço do calor, Deus fez crescer sobre
a cabeça de Jonas, com extrema rapidez, uma aboboreira (Ricinus
Communis), com o que Jonas muito se alegrou. Porém, com a mesma rapidez,
Deus enviou um verme, o qual feriu a aboboreira e esta se secou (Jonas
4:7). Por causa dessa fatal calamidade Jonas se irou novamente e
desmaiou, desejando a própria morte (v. 8). Ele havia se irado porque
Nínive fora perdoada e agora se irava porque a aboboreira não fora perdoada.
O Senhor lhe responde, comparando a aboboreira à cidade e comparando a
compaixão e solidariedade de cada um consigo mesmo, terminando, assim, a
história (vs. 9-11).
Seja qual for a nossa opinião
sobre o Livro de Jonas - cujo valor não se pode subestimar - devemos
confessar que o próprio Jonas ocupa um lugar inferior no catálogo dos
profetas do Velho Testamento. Jonas era um homem egoísta, orgulhoso,
briguento, colérico, enfatuado e perverso. Claro que ele era um bom
patriota, que amava Israel com lealdade. Como pregador, provavelmente,
ele era tão bom como os pregadores daquela época. Ora, quem de nós não
terá se regozijado quando numa guerra o inimigo perdeu os seus melhores
soldados? Jonas tinha ciúmes dos ninivitas, porém apenas um pouco mais
do que sentimos dos nossos inimigos nacionais ou dos pagãos. Os
judaizantes dos tempos apostólicos certamente sentiam ciúmes por ter
Paulo oferecido o evangelho aos gentios, nos mesmos termos em que este
lhes fora oferecido. Se a atitude de Jonas mudou para com os ninivitas
como resultado da admoestação do Senhor, não sabemos. Mas até onde
somos informados, Jonas era um profeta patriota vingativo e sedento de
sangue, o qual pregava com extraordinário êxito, sem, contudo, enxergar o
seu êxito.
Em última análise, Jonas era um
homem em quem a piedade e o dever sempre estiveram em conflito, um homem
temente a Deus tendo, contudo, abandonado a sua tarefa (Jonas 1:3,9).
Um homem em quem o espírito de humanidade foi quase afogado pelo
patriotismo. Em suma, ele foi um homem, cuja religião residia na emoção,
bem mais que na esfera da vontade. Ao contrário de Jonas, Jesus chorou
sobre Jerusalém!
III - Os tempos do profeta - Como
sabemos, Jonas viveu no tempo de Jeroboão II, rei de Israel do Norte, o
qual reinou de 790 até 750 a.C. Jeroboão recebera um reino fraco porque
desde o tempo de Jeú, seu bisavô, o povo vinha pagando continuamente
tributos à Assíria. Sob Jeroboão, sem dúvida, o povo começou a recobrar
suas forças anteriores. Ele tomou Hamate e Damasco, restaurando a
Israel todo o território que se estende desde Hamate até o Mar Morto,
conforme Jonas havia predito (2 Reis 14:25). Em verdade Jeroboão foi o
mais poderoso de todos os monarcas que se sentaram no trono de Samaria e
havia muitas esperanças de prosperidade quanto ao futuro do reino.
Na Assíria, contudo, as
condições prevalecentes eram justamente o oposto. Tudo era desanimador,
com a Assíria perdendo terreno. Em outras palavras, Israel crescia,
enquanto a Assíria declinava. O reinado de Adadmirari IV (810-782 a.C)
acabava de encerrar-se. Em suas três expedições à Palestina e às
terras ocidentais, ele havia recebido tributos dos heteus, de Tiro e de
Sidom “a terra de Omri”, ou seja, Israel do Norte, Sidom e Filístia. E
por suas amplas vitórias ele havia se tornado um dos maiores reis da
Assíria. Antes dele, nenhum rei assírio havia realmente dominado um
território tão extenso, e nenhum havia possuído além disso, um círculo
tão grande de estados que lhe pagavam tributo. Foi esse rei quem
favoreceu Amenofis IV, da Dinastia XVIII do Egito, uma espécie de
monoteísmo religioso, e que deixou uma inscrição notável que diz:
“Confia em Nebo. Não confies em outro deus”. Winckler sugere que teria
sido Adadmirari quem, como rei de nínive, deu as boas vindas a Jonas,
quando este ali chegou para pregar. Contudo, é mais provável que esse
rei já tivesse morrido e que a deterioração moral de Nínive já houvesse
começado. Porque depois do seu reinado, acontecera, lenta, mas
regularmente, um período de estranha decadência, o qual fizera Jonas
desejar que a Assíria decaísse cada vez mais. Sem dúvida aqui se
apresenta uma dificuldade pelo fato de que, nesse tempo especial e até o
tempo de Senaqueribe (705 a.C), Calah e não Nínive era a capital da
Assíria. Contudo, essa dificuldade é facilmente explicada quando se
recorda que Calah e Nínive eram apenas nomes diferentes de uma e a mesma
cidade, distando cerca de 32 Km uma da outra. E que Nínive não é
realmente chamada de capital da Assíria no livro de Jonas. Segundo
Cetesias e Deodoro “pode ser que Nínive significasse uma província, isto é, a própria Assíria entre os quatro rios”.
A verdadeira extensão da cidade, como nos diz Deodoro, era de 1.800
acres. De todas as maneiras sabemos que Nínive era uma cidade antiga,
tendo sido fundada por Ninrode (Gênesis 10:11), a qual é mencionada duas
vezes nas cartas de Te-el-Amarna, carta que data de 800 anos antes de
Jonas. Os monumentos também informam que o seu povo estava entre os mais
violentos e cruéis de todas as nações da antiguidade. Foi nessa cidade,
portanto, e em tempos muito desanimadores para a Assíria, mas não para
Israel, que Jonas foi comissionado a pregar.
III - Análise do Livro - As divisões em capítulos assinalam as suas divisões naturais.
Cap. 1 - A desobediência de Jonas, o qual “fugiu da presença do Senhor”.
Cap. 2 - Sua oração ouvida por Javé.
Cap. 3 - Sua pregação em Nínive -Jonas levantou-se e foi a Nínive.
Cap. 4 - Suas queixas culpando o Senhor.
IV – Os dois grandes milagres - Ambos são caracteristicamente orientais.
1. - O grande peixe –
Provavelmente nenhuma outra história na Bíblia tem causado tantas
alusões enganosas, tanta irritação tola, tanta mofa velhaca e tanta
exposição errada como “a história de Jonas e a baleia”. Como diz Moore: “Quase poderia ser dito que o monstro marinho tragou os comentaristas, assim como tragou o profeta”.
Os detalhes de um incidente comparativamente trivial têm sido
indevidamente exagerados, colocando-se ênfase nas coisas que não têm
valores supremos. Alguns expositores têm sido tão imprudentes que têm
levado a crer na maravilha do peixe como uma prova de ortodoxia. Porém,
sem dúvida, não foi o propósito do autor que pensássemos tanto na baleia
a ponto de nos esquecermos de Deus! Num sentido muito verdadeiro, claro
que a introdução do peixe nas solenidades da história não foi uma coisa
ridícula, porque aquele peixe fez o profeta!
A questão não é se pode existir
um peixe desse tamanho, a ponto de tragar um homem sem o mutilar.
Tubarões gigantes brancos têm sido capturados e a baleia conhecida
tecnicamente como “catodon macrocephalus”, a qual poderia tragar não
apenas o profeta mas até cavalos. Por exemplo, aquela que foi capturada
na costa da Flórida, em 1912, a qual se encontra no museu do Instituto Smithsoniano,
em Washington, D.C., com 14,4 metros de comprimento, pesando 14,8
toneladas, e que tinha no estômago, ao ser capturada, um peixe de,
aproximadamente, 680 Kg.
É de muito maior importância a
questão de como o profeta continuou vivo nas entranhas de um peixe, por
três dias e três noites. Ao citarem-se analogias, dão-se explicações.
Outro exemplo é o caso do marinheiro que em 1758 caiu de um barco no
Mediterrâneo e foi tragado por um tubarão, o qual, por sua vez, ao ser
ferido por uma bala de canhão, o vomitou são e salvo. Também existe o
caso de um índio tragado por um tubarão e encontrado ainda com vida,
após ter sido o animal capturado e aberto, tendo o índio falecido logo
depois. O finado professor Macloskie, de Princeton, explicou o caso
especial de Jonas, supondo que o profeta “ficou na cavidade da
laringe, onde podia respirar mais facilmente do que se estivesse no
estômago, onde, provavelmente teria sido sufocado”.
Contudo, essas explicações
apologéticas do fenômeno são frívolas e indignas. Porque ou o incidente é
histórico e, portanto, um milagre genuíno, ou é uma anedota oriental
sem fundamento algum, não proposto nem ensinado. A declaração de que
Jonas esteve no ventre do peixe por “três dias e três noites” (Jonas
11:17) é a maneira oriental de expressar o fato de que ele esteve tanto
tempo dentro de um peixe e que, se não fora pelo poder sustentador de
Deus, estaria morto e fora da possibilidade humana de ser restaurado à
vida (Comparar com João 11:17). O autor, estamos certos, pensava
representar a conservação de Jonas na morte ou o seu regresso à vida,
como algo sobrenatural.
2. - A conversão de Nínive -
Está é a maior maravilha das duas. A do peixe era física, esta é moral.
Para muitos a idéia de que uma grande cidade se arrependeu, de repente,
através da pregação de um hebreu estrangeiro, é inacreditável. Nínive
era a Londres do tempo de Jonas, tendo sido construída com despojos de
guerra. Era populosa, tendo mais de 600 mil habitantes [dos quais presumivelmente 120 mil crianças]
(Jonas 4:11). Também era opulenta, orgulhosa e bem fortificada. Seus
muros, como afirma Deodoro, tinham 30 metros de altura. Dentro de sua
área havia hortas e jardins e talvez até prados para o muito gado (Jonas
4:11). É descrita como uma “cidade muito grande” para Deus (Jonas
3:3), frase que expressa o hábito devoto da mente hebraica, a qual
reconhece Deus em tudo. O livro dá a entender que Jonas foi comissionado
a pregar numa cidade nada obscura, o que se constituía em grande
tarefa.
Nínive também é descrita como
uma cidade “de três dias de caminho” , uma expressão tipicamente
oriental. Nada tem a ver com o diâmetro ou com a circunferência da
cidade. Deodoro a descreve como tendo 480 estádios, cerca de 96 Km. As
cidades orientais em geral são construídas de maneira muito compacta. O
fato é mais bem referido pela necessidade de três dias para ser visitada
em todos os seus pontos principais e de interesse. Por exemplo, um
natural da Palestina iria responder, atualmente, do mesmo modo. O autor
deste comentário certa vez perguntou em Nazaré: “Qual das duas cidades é melhor: Nazaré ou Beirute?” A resposta imediata foi “Ó, Beirute é uma cidade de três dias”, referindo-se à superioridade do seu tamanho.
Entrando em Nínive, “caminho de um dia”
(Jonas 3:4), Jonas começou a pregar e através de sua severa e
misteriosa mensagem de arrependimento logo aconteceu um pânico
generalizado. Pela primeira vez na história da cidade a sabedoria
clamava através de suas ruas (Pv. 1:20). Jamais poderemos entender o
efeito mágico, e quase trágico, de sua mensagem, até que apreciemos a
seriedade com que ele, como um oriental, a anunciava. E também o caráter
psicológico dos ninivitas. Jonas mostrava no semblante o ardor do
sobrenatural. Depois daquela experiência no mar, provavelmente ele
pregou como alguém que fora levado à morte. Sem dúvida o seu rosto
resplandecia com a glória de Deus, como o de Moisés. Seus olhos
brilhavam na fronte sisuda, enquanto seus lábios clamavam: “Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida!”
(Jonas 3:4). Macauley descreve a oratória de Demóstenes como “a razão
ardendo com a paixão”. Jonas descarregava trovões e relâmpagos de
oratória divina. Parece que o profeta havia morrido e voltado à vida. Às
vezes é preciso haver uma experiência como a dele para que seja
produzido um bom pregador.
Os ninivitas eram ignorantes e
supersticiosos, especialmente nesse período em que a rebelião era
crônica. Muitas de suas províncias e a cidade estavam sempre em perigo
de sitiadores, que poderiam chegar aos seus portões, a qualquer momento,
daí ficarem facilmente amedrontados. Em geral é fácil amedrontar os
orientais até o ponto em que se tornam fanáticos, anunciando a vinda de
algum juízo que seja temido. Por isso Belsazar ficou tão apavorado com a
escritura na parede (Daniel 5:5-6). Do mesmo modo, Herodes, o Grande,
ao ouvir o anúncio dos magos, “perturbou-se, e toda Jerusalém com ele”
(Mateus 2:3). O arqueólogo Layard relata como um sacerdote católico, em
certa ocasião, assustou toda uma população maometana, anunciando um
terremoto. Quatro anos antes da destruição de Jerusalém, no Ano 70 d.C,
um rústico ignorante chamado Jesus Ben Anan, de repente começou a
proclamar ao povo, durante a Festa dos Tabernáculos, gritando repetidas
vezes: “Uma voz do Oriente, uma voz do Ocidente, uma voz dos quatro
ventos, uma voz sobre Jerusalém e o Templo, uma voz sobre os noivos e
noivas, uma voz sobre todo o povo!”. A cidade se assustou
terrivelmente. Sabe-se, por crônicas antigas, que, pouco antes da
verdadeira queda de Nínive, os governantes da cidade haviam ordenado um
solene jejum de 100 dias para suplicar ao deus Sol que lhes perdoasse os
pecados.
Assim, a admoestação solene e
imperiosa de Jonas, pronunciada em tons veementes e impetuosos, como o
breve sermão de Pedro no Dia de Pentecostes, despertou a consciência
adormecida dos ninivitas, que ficaram tomados de pânico pelo temor da
iminente calamidade. E logo foi proclamado um jejum e que se vestissem
de sacos (Jonas 3:5). E quando o rei ouviu o que acontecia, “levantou-se do seu trono, e tirou de si as suas vestes, e cobriu-se de saco, e sentou-se sobre a cinza”
(v. 6). Idênticas Expressões de temor e arrependimento eram comuns
entre os antigos. Heródoto nos conta como os persas cortaram as crinas
dos cavalos e de suas bestas de carga, a fim de que parecessem estar
participando do luto da nação, por causa de certo general chamado
Masistio, que caiu em Platéia. E Xenofonte relata que “quando chegou a
Atenas a notícia da destruição de sua frota em Egospotami, o clamor e a
angústia começaram no Pireo e se espalharam por toda a cidade e naquela
noite ninguém dormiu por causa da angústia e do terror do passado, do
futuro e por causa do remorso”. Porque sentiam que o que lhes
sobrevinha era uma retribuição de sua própria crueldade traidora e atroz
com Egina, Melos e Scione. O mundo, apesar de tudo, é regido não pela
verdade, mas pela opinião. Um verdadeiro profeta jamais carece de
aliados.
O arrependimento dos ninivitas
não foi, imagina-se, um arrependimento no sentido cristão. Foi como o de
Jonas no navio, temporário e superficial, gerado apenas até onde
chegava a sua capacidade intelectual e religiosa, o qual perdura somente
enquanto existe o medo. Seu único argumento foi: “Quem sabe se se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos?” (Jonas 3:9). O maior de todos os milagres é o milagre da GRAÇA.
V - A melhor interpretação - Há três opiniões: a mítica, a histórica e a alegórica.
1). - Interpretação Mítica -
Simpson nos garante que quando o Livro de Jonas é considerado um mito
ou lenda “então tudo se torna pequeno”. Segundo essa interpretação, o
neófito mítico no livro de Jonas recebe ordem de ir a Nínive, porém
desobedece e embarca num navio para Tarsis, quando na imaginação do
autor desaba uma tempestade e o iniciado é arrojado ao mar, isto é, ao
Sheol ou sepulcro, sendo o peixe uma figura do “ventre do inferno” (v.
2:2). Porém depois de três dias ele é levantado novamente e restaurado à
vida. Isso, pretende Simpson, é análogo a outros muitos contos e
rituais antigos, em que a morte simulada é seguida de um renascimento na
que fora considerada uma nova pessoa ou uma outra vida, esquecendo-se
com freqüência o noviço de quanto havia conhecido antes. Os Mistérios
Eleusianos, em que a história de Demétrio e Cora foi representada como
um drama por sacerdotes e sacerdotisas, eram desse mesmo tipo
iniciatório. Uma espécie de “drama místico”. Os ritos iniciatórios
foram, desse modo, regeneradores em seu simbolismo. A história de Jonas,
segundo Simpson, era uma lenda iniciatória. O próprio nome “Jonas”
significa “pomba”, sendo para ele uma forte evidência do caráter mítico
do profeta, como Afrodite, a quem a pomba era consagrada, saiu do mar.
Da mesma maneira Simpson mostra que o Êxodo dos israelitas da terra do
Egito era uma lenda iniciatória. Assim também a ressurreição, assim
também Salomão, que era o deus peixe, sendo este no Grego o nome místico
de Cristo. Como evidência Simpson apela a Agostinho, que disse: “Descendo vivo às profundezas desta vida mortal, como faria o abismo das águas”. E mais especialmente Tertuliano, que diz explicitamente: “Somos pequenos peixes em Cristo, o nosso grande peixe. Porque somos nascidos em água e somente nela podemos estar salvos”.
Claro que existe muito de
atrativo nesta opinião sobre o livro de Jonas, mas à interpretação de
Simpson falta tudo para seja conveniente.
2). - Interpretação histórica -
Segundo esta a história de Jonas é historicamente certa, estando
embasada nos fatos e na experiência do profeta. A prova desta opinião
tem várias considerações de importância. Vejamos:
1. A forma do próprio livro - que é a de
uma narrativa resumidamente histórica e assim foi vista, tanto pelos
judeus como pelos cristãos, até o primeiro século d.C.
2. O livro de Tobias (Tb. 14:4-8) datado do século 2 a.C e o livro III Macabeus (6:8) datado do século 1 a.C., assim como as Antiguidades de
Josefo Vol. IX, 10, 2, escritos até o final do século 1 d.C, todos
tratam do chamamento de Jonas e de sua pregação em Nínive como um fato
verídico.
3. Jonas não foi o único profeta do Velho
Testamento a ter ministrado às nações estrangeiras. Comparem-se a
missão de Elias em Sarepta (1 Reis 17:8 e seguintes) e com Oséias 5:13.
4. A maioria dos críticos modernos está
de acordo em que existe algo de verdade na história de Jonas, pelo menos
em que este realmente esteve pregando em Nínive.
5. Acrescente-se a isso a idêntica
experiência doméstica do profeta Oséias (Oséias 1:3) e assim o naufrágio
de Jonas tem um paralelo trágico. De fato, ambos os profetas foram
“vocacionados” por meio de providências muito maravilhosas de Deus
[Romanos 8:28].
3.) - Interpretação alegórica ou parabólica -
Esta opinião repousa sobre a convicção de que mesmo que haja milagres
genuínos na Bíblia, Deus não está acostumado a fazer milagres do gênero
descrito no Livro de Jonas. Porque se a história é literalmente correta,
então o êxito de Jonas eclipsa o de todos os outros profetas do Velho
Testamento, até mesmo a vitória de Elias no Carmelo (1 Rs. 18). Se a
história é literalmente certa, então por que são passados por alto
certos detalhes históricos, tais como os pecados e o nome do rei de
Nínive, o tamanho da cidade e o efeito da repreensão sobre Jonas?
Portanto, argumenta-se que Jonas
não passa de mero indivíduo na história, um tipo humano, um profeta
simbólico histórico, e que os fatos dessa história são de menos
importância que as lições ensinadas. De fato em Jonas “estamos numa
terra de maravilhas”, sendo essa história apenas poesia semelhante ao
caráter do Livro de Jó e às parábolas do Filho Pródigo, do Bom
Samaritano e do Peregrino (de Bunyan). Que ela ostenta em todas as
partes os sinais da alegoria, do símbolo e da parábola. Desse modo,
Jonas é apresentado como o representante de Israel; o peixe como o
cativeiro de Israel na Babilônia, etc. De fato, Nabucodonosor é descrito
em Jeremias 51:34,41 como tendo “tragado” Israel (Comparar com Oséias
6:1-2). Há também muitas outras alegorias no Velho Testamento, como por
exemplo a de Natã apresentada a Davi (2 Samuel 12:1-7), da mulher de
Tecoa (2 Samuel 14:1-10), do prisioneiro posto em liberdade por um
profeta anônimo que falou com Acabe (1 Reis 20:39-41), e outras.
Contudo, há duas objeções sérias, senão fatais a esta interpretação:
1. - Nenhuma outra alegoria em todo o Velho Testamento em como herói uma pessoa histórica.
Os novelistas modernos podem produzir o que chamamos novela histórica,
porém, até onde sabemos, os hebreus jamais o fizeram. Além disso, o
autor havia apenas condenado um profeta sem culpa, no tempo de Jeroboão,
a semelhante ignomínia perdurável, a menos que tivesse algum fundamento
histórico substancial e certo para a história. O esforço que tem sido
feito por um autor para encontrar um paralelo no Novo Testamento, na
parábola das minas, que se supõe ser embasada nos incidentes bem
conhecidos da visita de Herodes, o Grande, e Arquelau a Roma, é
sugestivo do fato de que Jonas não tenha analogia. A parábola do Homem Rico e Lázaro e
sua referência ao “seio de Abraão” não faz com que Abraão seja o herói
da parábola. Era bem mais o nome comum no tempo de Cristo para
significar “paraíso” ou “céu”. Se o Livro de Jonas é uma alegoria ou
parábola, então o herói da história não pode ser o Jonas histórico de 2
Reis 14:25. É bem melhor supor que esse herói também é parabólico. Budde
evidentemente sentia a força deste argumento; porque explica o livro
como “Midrash” sugerido de fato pela 2 Reis 14:25, pertencendo, contudo,
ao maior “livro dos reis” mencionado no 2 Crônicas 24:27.
2. - Outra objeção a esta interpretação é a presença do milagre nele
contido. Qualquer coisa milagrosa é diretamente contrária ao mesmo
gênero da alegoria ou parábola. Por sua natureza as parábolas e
alegorias se opõem a tudo que é grotesco e inacreditável. Nelas o
pensamento e o fato são a mesma coisa e a verdade é aceita facilmente
por ser evidenciada. A história do peixe, portanto, e da conversão dos
ninivitas destroem completamente a natureza de uma parábola ou de uma
alegoria, conforme as conhecemos na Bíblia.
VI - O emprego de Jonas por Nosso Senhor -
Nos sinóticos é dito duas vezes que os escribas e fariseus suplicaram
que Jesus lhes desse um sinal de sua condição messiânica e Ele contestou
por duas vezes, citando-lhes o caso do profeta Jonas e sua pregação em
Nínive (Mateus 12:38-42 e 16:4; Lucas 11:29-32). É possível que o uso
deste livro feito por Nosso Senhor possa ajudar-nos a interpretá-lo. É
estranho que tantos expositores modernos ignorem por completo essa
possibilidade. Naturalmente vamos fazer duas perguntas: a) - Do
que buscavam os escribas e fariseus um sinal? Do seu caráter, missão,
pretensões messiânicas, o seu direito como judeu de pregar uma redenção
universal sobre a base do arrependimento. Ou do que? b) - Em que sentido Ele dava a entender que nenhum sinal lhes seria dado a não ser o do profeta Jonas?
O resumo da resposta de Nosso Senhor parece ser este: “Assim
como Jonas pregou o arrependimento a todos os homens, incluindo
gentios, assim eu faço. Assim como Jonas teve que morrer, por assim
dizer, antes de ser usado por Deus no cumprimento de sua missão, o mesmo
acontecerá comigo. E assim como ele morreu em sentido muito
verdadeiro, como um substituto pelo seu povo, isso mesmo tenho de fazer.
Os homens de Nínive, sem dúvida, corresponderam à mensagem de
arrependimento que lhes foi entregue por Jonas; contudo, vós não me dais
ouvidos. Por isso eles se levantarão em juízo e os condenarão porque há
muito mais coisas que vos chamam ao arrependimento do que aquelas que
os chamaram!”. Assim Jesus repreende os escribas e fariseus por
insistirem em provas externas. Como Ele sabia, é raro convencer homens
que não têm a luz em si. E o próprio Jonas não fez milagre.
Porém o assunto que nos concerne
principalmente é este: Nosso Senhor usou o livro de Jonas como
história, como parábola ou como outra coisa? Na mesma conexão ele
prossegue falando: “A rainha do
meio-dia se levantará no dia do juízo com esta geração, e a condenará;
porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E
eis que está aqui quem é maior do que Salomão”
(Mateus 12:42). Certamente parece improvável que no mesmo contexto o
Senhor tivesse misturado nomes reais e fictícios. Se a narrativa da
Rainha do Meio dia (ou do Sul) foi um fato histórico e a de Jonas fosse
uma ficção, provavelmente Jesus teria discernido entre elas por uma
questão de honestidade intelectual.
Porém negar a historicidade do
livro de Jonas de modo nenhum envolve uma negação de Cristo e sua
ressurreição. Todo o assunto é em sentido muito verdadeiro, sendo mais
uma questão de interpretação do que de fé. Certamente não podemos tomar
ao pé da letra tudo que Jesus falou sobre Jonas. Por exemplo, Jesus não
esteve literalmente três dias e três noites no seio da terra (Mateus
12:40) e por isso não devemos escavar sobre este ponto tão difícil.
Jesus usava com freqüência grande amplitude ao interpretar o Velho
Testamento e muitas vezes Ele mesmo falou em parábolas. Por isso Ele
pode ter assimilado o profundo simbolismo do livro de Jonas como sendo
do mesmo gênero. Em certa ocasião Ele até predisse a sua própria morte
violenta por meio da parábola dos lavradores maus (Mateus 21:33-39).
Obviamente o seu objetivo principal ao citar Jonas como um sinal para os
fariseus eram os três dias de Jonas no ventre do grande peixe e o
arrependimento dos ninivitas, apoiando a relação de causa e efeito. E
que como Jonas morreu e ressuscitou, tendo êxito na pregação, assim o
Filho do Homem deveria morrer e ressuscitar para que os homens cressem
nele. Orelli percebe a verdadeira significação da referência de nosso
Senhor, quando diz: “Quem quiser, então, sinta a grandeza religiosa
do livro e aceite como autoridade a atitude do próprio Filho de Deus com
relação à sua significação histórica. Que seja conduzido a aceitar o
grande feito divino de baixar ao hades e voltar a levantar-se, como uma
experiência atual de Jonas em sua fuga do Senhor”.
VII - Ensino permanente - O autor
do Livro de Jonas ensina a teologia mais sublime do Velho Testamento. Na
generosidade, no amor pela humanidade e na apreciação do caráter de
Deus, este livrinho é preeminente como o mais nobre, o mais liberal e o
mais cristão de toda a literatura do vetero-testamentária. Ele contém
uma verdade muito avançada para a época de Jonas, verdade que não
perderá o valor, enquanto os homens tiverem coração e apreciarem o
evangelho. Segundo Jerônimo, Cipriano converteu-se através desse livro.
Cornill testifica que “não se pode abrir este maravilhoso livro ou sequer falar dele sem ter os olhos marejados de lágrimas”. Sellin o considera “uma das jóias mais preciosas da literatura hebraica”. Vamos destacar algumas das grandes verdades por ele sugeridas:
1. - A universalidade da graça divina -
sendo esta a principal lição do livro. O autor a preserva até o fim
(Jonas 4:10,11) e termina o livro dando-lhe ênfase. É a imagem de João
3:16 no Novo Testamento: “Porque
Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Terêncio expressa um pensamento famoso e muito citado, semelhante ao que é ensinado no livro, quando diz: “Sou homem e não considero nada estranho para mim de quanto é humano”.
Porém o autor de Jonas nos diz melhor o que Deus pensa das massas. Como
um grande estadista missionário, ele antecipa a universalidade do
programa evangélico de Jesus. Para o autor de Jonas, Deus não é uma
divindade restrita a uma tribo. Os pagãos, assim como a descendência de
Abraão, estão incluídos na eleição divina.
“Porque o amor de Deus é mais amplo
que a medida da mente humana.
E o coração do Eterno
é maravilhosamente bondoso”.
Como diz Teodoreto: “O Livro de Jonas prefigura a pregação do evangelho sobre toda a terra”. Sem dúvida ele revela o coração da Bíblia e faz sua própria apelação silenciosa em favor de missões estrangeiras.
2. - Um patriotismo mais alto -
Contrastando com o patriotismo de espírito mesquinho e depreciável de
Jonas, o qual representava sua nação, o autor nos dá, como já vimos, a
descrição de um Deus amoroso, paternal e universal. A comparação tinha o
propósito de repreender asperamente Israel pelo seu fanatismo e dureza
de coração. Era uma repreensão inconsciente ao espírito do “irmão mais
velho” na parábola do Filho Pródigo, que não havia se pronunciado. Jonas
era intensamente patriota, embora também fosse ciumento e vingativo.
Seu patriotismo era do tipo comum, baixo e estreito, portanto falso. O
patriotismo de muitos cristãos não é melhor.
George Adam Smith fala do
terrível ódio do turco infiel contra as igrejas orientais da Turquia, na
atualidade. Ele diz: “Durante séculos não tem havido qualquer
intercâmbio espiritual entre eles. Procurar converter um muçulmano tem
sido por mil e duzentos anos um crime capital. Certa vez indaguei a um
leigo culto e devoto da Igreja Grega:‘Por que, então, criou Deus tantos muçulmanos?’ A calorosa resposta veio num instante: ‘Para poder encher o inferno’
” Contudo, esse espírito não está, de modo algum, limitado ao Oriente.
Pelo contrário, este é o verdadeiro patriotismo ensinado no livro de
Jonas, inclusive em outras nações e também entre os povos pagãos.
3. - O caráter condicional da profecia –
especialmente as ameaças de Deus. Ewald opina ser este o principal
objetivo do livro. Ele ensina que quando Deus ameaça, suas ameaças são
sempre condicionais. O livro nos dá uma ilustração prática de Jeremias
18:7-8 e de Ezequiel cap. 33. Os ninivitas sentiam, como todos nós
temos o direito de sentir, que quando Deus ameaça, está prometendo.
Quando Ele se acerca, de qualquer maneira é para a nossa salvação, ou
como dizem os teólogos mais antigos: “Deus não tem obrigação de cumprir suas promessas” [E como arrepender-se é também um ato divino, Deus muitas vezes se arrepende do mal que ia fazer].
A consciência despertada sente, instintivamente, que as ameaças divinas
não podem ser as últimas palavras que Deus nos dirige e que devem ter
sido feitas sem a obrigação de serem cumpridas. De fato, o castigo por
meio do arrependimento pode ser transformado em salvação.
4. - O segredo da pregação efetiva -
O livro contém uma lição especial para os pregadores. Ele ensina que
para ser um pregador efetivo, alguém precisa morrer primeiro, por assim
dizer, e em seguida renascer, como aconteceu com Jonas. “O caminho da
cruz é o caminho da luz”. Esta é a lei da profecia efetiva em todas as
partes do mundo. Somos mais facilmente conduzidos ao arrependimento e ao
Senhor por meio do sacrifício vicário de Jesus... Todo verdadeiro
cristão precisa ter no coração um lugar reservado a toda a humanidade.
5. - A necessidade da obediência -
Esta é a lição mais patente no Livro de Jonas. Ele tentou fugir da
presença do Senhor. Contudo, homem nenhum pode escapar do seu destino
divinamente assinalado, nem evitar a vontade de Deus em sua vida. É tão
mau quanto inútil evitar um dever que nos é imposto por Deus.
VIII - Canonicidade - Kirkpatrick em sua obra “Doutrina dos Profetas” excluiu o livro de Jonas, “porque não é uma narrativa de ensino de um profeta, mas a narrativa da obra de um profeta”.
Mesmo assim ele não teve coragem de excluí-lo do Cânon. Jamais existiu
uma evidência de que o livro de Jonas tivesse corrido o perigo de ser
excluído do seu lugar entre os escritores canônicos. Seu espírito e seu
ensino não apenas são iguais aos de todos os outros profetas do Velho
Testamento, como se equiparam com os maiores dentre estes. Foi, então,
um justo instinto que moveu os organizadores do Cânon a incluir este
livro, colocando-o entre os profetas menores. Konig procura explicar o
seu exato lugar entre os Doze, como vindo depois de Obadias, por causa
de uma frase com a qual ele começa: “...Temos ouvido a pregação do SENHOR, e foi enviado aos gentios um emissário...” (Obadias 1:1). Jonas teria sido esse mensageiro e por isso o seu livro tem sido às vezes chamado de “O Comentário de Deus Sobre Obadias”. Os judeus costumam ler este livro no Grande Dia da Propiciação.
“The Tweve Minor Prophets”, George L. Robinson
Publicado por George H. Doran Co, New York, 1926
Traduzido por Mary Schultze, março/abril 2004
Citações bíblicas da Bíblia Revisada FIEL de Almeida
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