sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Oséias, o Profeta do Amor

I – Nome e personalidade – O nome de Oséias, como os de Josué e Jesus, provenientes da mesma raiz hebraica, significa “salvação”, “ajuda” e “libertação”. É provável que  o profeta fosse natural de Israel do Norte, segundo indicam suas freqüentes alusões ao Líbano, Samaria, Betel, Jezreel e Ramá. Diz Ewald que “Em cada declaração parece que Oséias não apenas havia visitado o reino de Efraim como o havia feito Amós, mas conhecia-o do mais profundo do seu coração, segundo todos os seus feitos, propósitos e sortes, com os profundos sentimentos edificados por uma simpatia tal, que é concebível somente no caso de um profeta nativo”. Como um filho do campo, como um rústico, Oseías sacou muitas de suas pequenas e encantadoras figuras do lar, do horto e do rancho, conforme os versos Oséias 4:16; 7:4-8; 8:7; 10:11; 11:4; 13:3,15; 14:7. Aqui se encontram os contrastes com Amós, o qual retrata as áridas montanhas de Judá e o Mar Morto.
         
Oséias é o missionário nacional de Israel do Norte, assim como Jonas o foi do exterior. Ele era manso, pensativo, inclinado à melancolia, mas também franco, afetuoso e cheio de patriotismo.  Ele foi o Jeremias do reino setentrional e, como este, foi pouco menos que um mártir prefigurando a Pessoa de Cristo. Ambos foram ardentes patriotas, possuindo natureza religiosa e altamente sensível. Jeremias foi mais consciente de si mesmo em sua dor. Oséias foi mais delicado e controlado. Jeremias foi mais um teólogo, Oséias foi mais um poeta. Seu livro é uma profecia e ao mesmo tempo também, um dos mais evangélicos. Isso não se deve a nenhuma das predições especiais messiânicas nele contidas, mas ao fato de anunciar com séculos de antecipação “o novo mandamento” dos evangelhos, tendo sido ele o primeiro dos videntes a compreender a verdade de que Deus é amor e de que o pecado maior de Israel foi não ter reconhecido o amor de Deus. Por isso Oséias foi o evangelista João do Velho Testamento.
II – O seu tempo – O título do seu livro diz: “PALAVRA do SENHOR, que foi dirigida a Oséias, filho de Beeri, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, reis de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel (Oséias 1:1). Por isso Oséias, como Amós, começou a profetizar em tempo de grande prosperidade, tendo deixado de fazê-lo quando a nação lutava contra o poder da anarquia.
         Durante os seus primeiros anos, Jeroboão II era um grande monarca, uma espécie de Luiz XIV de Samaria. Ele encabeçava um despotismo militar arrogante, como um verdadeiro descendente de Jaú. Em seus dias, Israel esteve no ápice da prosperidade militar, mas, ao mesmo tempo, despencava com rapidez na corrupção moral. O II Livro de Reis nos informa que na morte de Jeroboão aconteceram dissensões internas, com políticos rivais sacrificando os interesses  da nação aos seus próprios interesses, com príncipes corruptos tornando-se reis ilegais, com o poder nacional declinando seriamente. “O rei de Samaria será desfeito como a espuma sobre a face da água” (Oséias 10:7). Jeroboão foi, realmente, o último homem forte de Israel. Dos seis reis que o sucederam, somente Menaém morreu de morte natural. “Conspiração” era a chave da história desse período, conforme  a II Reis 15. Zacarias reinou por seis meses, Salum, por um mês apenas. Em seu desespero, primeiro os reis se inclinavam numa direção, em seguida noutra, havendo logo um ou outro que se inclinava pela ajuda estrangeira, pagando tributo alternadamente à Assíria e ao Egito, até perderem definitivamente a independência e a autonomia nacional, esgotando os seus recursos e vendo-se forçados a se tornarem vassalos da Assíria. Quando acabou a sua independência, o declínio veio rápido. Para um patriota como Oséias, era terrível pedir ajuda aos governos estrangeiros (Oséias 8:9 e 10:6). Semelhante política não remediava a enfermidade moral da nação (Oséias 5:13). Inconscientemente, Efraim se tornou prematuramente velho, com “as cãs se espalhando sobre ele”, conforme Oséias 7:9. Todas as classes da sociedade se desmoralizavam. Além disso, os sacerdotes se tornaram bandidos, regozijando-se com os pecados do povo, pois estes lhes aumentavam os rendimentos.
         As coisas iam de mal a pior, até que o profeta exclamou: “OUVI a palavra do SENHOR, vós filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra; porque na terra não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus. Só permanecem o perjurar, o mentir, o matar, o furtar e o adulterar; fazem violência, um ato sanguinário segue imediatamente a outro” (Oséias 4:1-2). As condições eram terríveis. A religião havia se transformado na idolatria mais sensual. A vida familiar se fez dissoluta, razão pela qual o profeta a condenou mais que tudo. Para expressar o seu desespero, ele usou a palavra “fornicação” nada menos de 16 vezes. Como diz Davidson: “Oséias viveu, talvez, durante o tempo mais turbulento e inquieto jamais  experimentado por Israel no passado”. A fúria das distintas facções era como o calor ardente: “Todos eles são adúlteros; são semelhantes ao forno aceso pelo padeiro, que cessa de mexer nas brasas, depois que amassou a massa, até que seja levedada” (Oséias 7:4). Em toda parte havia oposição entre os homens, sendo desesperadora a perspectiva da nação. O sol de Israel ia se pondo e somente um profeta poderia discernir o trágico fim da nação. De fato, pouco tempo depois que Oséias deixou de profetizar, o povo foi levado cativo para a Assíria pelo rei Sargão (II Reis 17).
III - Duração do ministério de Oséias – Alguns crêem que o seu ministério ativo perdurou apenas dez anos. Essa opinião se apóia nas referências do profeta a Gileade, em Oséias 6:8 e 12:11, as quais parecem indicar que o profeta ignorava a guerra entre a Síria e Efraim (734 a.C). Contudo, mais recentemente, Alt declarou que Oséias 5:8 a 6:3 se referem claramente a essa guerra. Além disso, o papel representado  pelos egípcios em Oséias 7:11; 9:3,6;11:5 e 12:1, como contrapeso à Assíria, parece, conforme observa Sellin, levar-nos ao tempo de Oséias, o último rei do reino setentrional. Junte-se a isso a alusão do profeta, em Oséias 10:14, ao saque de Bete-Arbel por Salmã, o que nos leva a 725 a.C, visto como provavelmente foi nesse ano que Salmaneser IV (que pode ser identificado como Salmã) tomou Bete-Arbel. Conforme  II Reis 17:3,4, Salmaneser invadiu Canaã duas vezes: primeiro, quando tomou Bete-Arbel, impondo tributo a Israel setentrional, e depois, no tempo do rei Oséias, quando este quebrou o pacto combinado. Ao contrário de Wellhausen, Nowack e outros, que negam a genuinidade de Oséias 10:14, dizendo que se trata de Salmaneser IV, afirmam que se trata de uma adição posterior, visto que Oséias terminou o seu ministério antes do rei Oséias ter subido ao trono, achamos melhor acreditar que as profecias de Oséias se estenderam sobre um considerável período da história de Israel, o qual poderia ser colocado entre 750 e 725 a.C.
IV – A vocação de Oséias - (Capítulos 1-3). A história pessoal de Oséias pode ser interpretada como um símbolo pessoal da experiência de Javé com Israel e pode ser considerada como a chave do seu ensino. Com delicadeza e sem egoísmo, ele narra a trágica história de sua vida familiar. Esta infundiu como um fogo em sua alma duas idéias: o amor e a fidelidade de Javé por Israel e a infidelidade e ingratidão de Israel para com Javé. Vejamos o que dizem os versos 1:1,2 de Oséias: “PALAVRA do SENHOR, que foi dirigida a Oséias, filho de Beeri, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, reis de Judá, e nos dias de Jeroboão, filho de Joás, rei de Israel. O princípio da palavra do SENHOR por meio de Oséias. Disse, pois, o SENHOR a Oséias: Vai, toma uma mulher de prostituições, e filhos de prostituição; porque a terra certamente se prostitui, desviando-se do SENHOR”. A mulher escolhida foi Gomer, a qual lhe deu dois filhos e uma filha: Jizreel (vingança), Lo-Ruama (sem compaixão) e Lo-Ami (vós não sois meu povo), nomes que significavam o julgamento que, inevitavelmente, iria recair sobre a casa de Jeú. Gomer era infiel aos votos matrimoniais. Metendo-se em orgias desenfreadas a Baal e Asterote, ela caiu na escravidão sensual. Logo em seguida, Oséias a redimiu por 15 siclos de prata e 1,5 ômer de cevada (Oséias 3:2). Desse modo, pelas amarguras sofridas no próprio lar, o profeta aprendeu o amor inextinguível de Javé. Toda a sua história conduz à experiência da realidade. De fato, somente com uma história verdadeira as palavras do profeta poderiam surtir efeito. Sua própria experiência serviu  como um espelho vivo das relações infiéis de Israel para com Javé. É inútil objetar a interpretação literal de todos os capítulos de Oséias. Pois se forem tomados apenas com figurados ou alegóricos, tal interpretação seria uma censura à verdadeira esposa do profeta, se é que ele era casado. E também poderia ser contra o próprio profeta, caso ele não fosse casado.  Toda a história, inclusive o capítulo 3, é uma peça única, referindo-se os capítulos 1 e 3 à mesma mulher e ao mesmo mandato de Javé para que Oséias se casasse com uma rameira. Semelhante pensamento é tremendamente repulsivo às nossas concepções modernas e muito mais o era à mente dos antigos hebreus. Muitos supõem que Gomer havia sido uma mulher pura, até a época do seu casamento, apenas que ela possuía tendências latentes a uma vida imoral. Isso foi ensinado por Ambrósio, Teodoreto, Cirilo de Alexandria e Teodoro de Mopsuéstia. Não que Oséias, com os seus olhos bem abertos, tivesse casado com uma mulher que já possuía má fama, como afirmam outros, porque diz Davidson: “Supor que Javé havia mandado o seu profeta se unir com uma mulher já conhecida pela sua vida impura é absurdo e monstruoso”. Em todo caso, temos o exemplo de uma esposa má, que fez o profeta ser bom. Contudo, não poderia Gomer ter sido antes do casamento uma prostituta sagrada? “Uma mulher sagrada” (pois a palavra “rameira” significa “mulher  sagrada”) uma mulher que o profeta teria comprado do santuário ao qual ela pertencia? A fornicação sacramental era uma característica normal nas religiões politeístas, conforme a natureza dos cultos pagãos. Ainda hoje isso é normal na Índia. E assim foi na religião greco-romana influenciada pelos cultos asiáticos. Não é, portanto, impossível que uma “santidade religiosa” fosse atribuída a semelhante matrimônio e que esse ato de Oséias fosse olhado, de fato, como legítimo e meritório.
         Em todo o caso, a eleição que Oséias fez de Gomer apresenta um problema na Providência divina, o qual não tem paralelo, a não ser na eleição de Judas Iscariotes feita por Jesus. Certamente pode ter havido uma exceção de moralidade social, talvez encoberta ao povo, mas conhecida por Javé. Essa teoria ajuda a explicar a psicologia do desenrolar religioso de Oséias. Em toda a literatura mundial não existe uma história de amor que se compare à de Oséias. Sua paixão por Gomer não era simplesmente uma forte explosão de sentimento. Era, antes de tudo, um fogo consumidor encerrado em seus ossos, o qual nenhuma infidelidade de Gomer poderia abrandar e nem o sofrimento pessoal de Oséias poderia extinguir. O profeta descobriu, por causa da traição de Gomer, e do afeto e lealdade dele, que não existe amor sem sofrimento. Ao mesmo tempo em que não existe sofrimento sem amor. Por isso ele é chamado, apropriadamente, o “Menestrel dos Profetas”, isto é, “O Profeta do Amor”.
V - A mensagem de Oséias - (Capítulos 4-14) - A análise do livro de Oséias é quase impossível. Sem dúvida, em toda parte a sua personalidade é revelada, a maior parte, provavelmente, pelas muitas notas colecionadas com esmero, durante anos. Com muita propriedade esse livro tem sido descoberto como um “amplo monólogo apaixonado, interrompido por soluços”. Ou então, como dizem outros: “mais soluços do que palavras”, o que se torna claro: os capítulos 1-3 falam do mensageiro, enquanto os capítulos de 4-14 falam da mensagem. A primeira seção é uma espécie de autobiografia espiritual, meio narrativa, meio profética, com o confesso amante atormentado à causa de um coração, o qual, pela angústia do amor humano ultrajado, conquistou o segredo do amor divino. A segunda seção consiste numa série de homilias, meros fragmentos de admoestação e promessas, sem quaisquer divisões claramente indicadas. A razão desse tipo mesclado e desconexo de discurso profético se torna perfeitamente clara, especialmente quando reconhecemos que a teologia de Oséias é a do coração em vez da teologia da cabeça. Muitos esforços têm sido feitos  para traçar uma ordem cronológica nos extratos dos capítulos 4-14. Assim, Ewald opinava ter descoberto até mesmo um arranjo artístico e poético, conforme veremos a seguir: 1. Caps. 4:1 a 6:11a – a acusação. 2. Caps. 6:11-b a 9:9 – o castigo. 3. Caps. 9:10 a 14:9 – o passado e o futuro de Israel. Mesmo assim, é melhor considerar que as idéias da profecia de Oséias, por estarem limitadas em número, foram repetidas com freqüência e que o desenrolar e a ordem cronológica foram quase completamente desconsiderados. De fato, os ensinos principais de todo o livro podem ser resumidos em apenas três palavras: lamentação, condenação e consolação, não se podendo discernir qualquer  progresso, a não ser o andamento geral, desde: 1). A culpabilidade de Israel. 2). O castigo. 3). A restauração final. Existe uma monotonia de dor em cada parte do livro, do mesmo modo como existe em “Lamentações de Jeremias”, a qual se expressa em distintas variedades de frases e cadência, que comovem o coração. Apesar disso, é possível traçar, por propósitos homiléticos, os sucessivos passos na destruição nacional de Israel, como segue:
1º. - a falta de conhecimento, conforme o verso Os 4:6: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos”.  Isto significa “falta de bom senso”, acusação fundamental de Oséias. A nação ignora a lei de Deus. O povo é sensivelmente estúpido, sem juízo, conforme diz o verso Oséias 4:11: “A luxúria, e o vinho, e o mosto tiram o coração”.
A palavra “coração” em Hebraico equivale à palavra “senso”. Desse modo, a repreensão fundamental do profeta é intelectual.
2º. - O orgulho - (verso 5:5) - “A soberba de Israel testificará no seu rosto; e Israel e Efraim cairão pela sua injustiça, e Judá cairá juntamente com eles”. Isso quer dizer que Israel tem um coração enfermo. O povo não somente era patriota como era também arrogante. Efraim tentou rivalizar com os pagãos como um poder mundano. A prosperidade de Jeroboão se tornou em tropeço para a nação. A honra nacional se tornou sinônimo de fornicação nacional. Ao lermos estas palavras recordamos o que disse o poeta James Russell Lowell (1819-1891) em Harvard, quando essa universidade completou 250 anos (1886):
         “Entristeço-me, quando vejo que o nosso êxito como nação é medido pelo número de acres cultivados e das grandes quantidades de trigo exportadas, pois o verdadeiro valor de um país deve ser pesado em balanças mais precisas do que a balança comercial. Os jardins da Sicília agora estão vazios, porém as abelhas de todos os climas ainda trazem mel do pequeno jardim de Teócrito. No mapa mundi pode se tapar a Judéia com o polegar, Atenas com a ponta do dedo, nenhuma das duas sendo mencionada no mundo comercial. Contudo, elas ainda perduram no pensamento e nas ações do homem civilizado. Dante não tapou com o seu gorro todos os que habitam a Itália nos últimos 600 anos? E se regressarmos um século, onde estava a Alemanha, senão em Weimar? O êxito material é bom, mas apenas como uma preliminar necessária a coisas melhores. A medida do verdadeiro sucesso de uma nação é a quantidade em que esta terá contribuído ao pensamento, à energia moral, à felicidade intelectual, à esperança e ao consolo espiritual da humanidade”.
3º. - Instabilidade - (Verso 6:6) – “Por isso os abati pelos profetas; pelas palavras da minha boca os matei; e os teus juízos sairão como a luz...”
4º. - Mundanismo - (Versos 7-8) - “Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim. Gileade é a cidade dos que praticam iniqüidade, manchada de sangue”. Isso quer dizer que a política da nação era má. Por falta de entendimento, Efraim buscou alianças com o Egito e a Assíria, tratando Javé de modo leviano. A nação, sem dúvida, havia sido comandada estritamente pelo grande Legislador a ficar separada dos outros povos. Além disso, Efraim era uma torta, ao redor da qual não se havia dado volta, meio cozida de um lado e meio queimada do outro. Alguns eram demasiadamente ricos, outros pobres ao extremo, fervorosos na política, frios na religião, ficando demasiadamente separados nos extremos da sociedade.
5º. - A corrupção - (Versos 9:9-10) – “Muito profundamente se corromperam, como nos dias de Gibeá; ele lembrar-se-á das suas injustiças, visitará os pecados deles. Achei a Israel como uvas no deserto, vi a vossos pais como a fruta temporã da figueira no seu princípio; mas eles foram para Baal-Peor, e se consagraram a essa vergonha, e se tornaram abomináveis como aquilo que amaram”. A religião estava apodrecida. Era extrema a corrupção na política, como era imperdoável na religião. Israel praticava a fornicação espiritual, disfarçada sob a capa da religião, buscando a Baal-Peor.
6º. Apostasia - (Verso 11:7) - “Porque o meu povo é inclinado a desviar-se de mim; ainda que chamam ao Altíssimo, nenhum deles o exalta”. A apostasia já se transformara num hábito. Os homens pereciam por causa dos seus próprios conselhos perniciosos, conforme o verso 11:6: “E cairá a espada sobre as suas cidades, e consumirá os seus ramos, e os devorará, por causa dos seus próprios conselhos”. A vingança contra o mal era preparada pela própria nação e seus conselheiros. Mesmo assim, Javé deseja salvá-la, como vemos no verso 11:8: “Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como Admá? Te poria como Zeboim? Está comovido em mim o meu coração, as minhas compaixões à uma se acendem”.  (Ver Salmos 23:6).
7º. - A idolatria - (Verso 13:2) - “E agora multiplicaram pecados, e da sua prata fizeram uma imagem de fundição, ídolos segundo o seu entendimento, todos obra de artífices, dos quais dizem: Os homens que sacrificam beijem os bezerros”. Israel foi realmente culpado de completo abandono ao Senhor. Profeta algum jamais menosprezou os deuses fabricados como o fez Oséias. De fato, ele denunciou os pecados de Israel nesse tipo de infidelidade a Javé.
         Foram sete os passos principais dados por Israel rumo à sua destruição, conduzindo-a diretamente à ruína nacional. Contudo, o livro de Oséias não se encerra sem uma oferta de graça para a redenção do país, conforme o capítulo 14. Mesmo sendo culpada diante de Javé, sem dúvida alguma, através do arrependimento a sua restauração não é. Vejamos como Javé iria responder, nos versos 14:2, 4: “Tomai convosco palavras, e convertei-vos ao SENHOR; dizei-lhe: Tira toda a iniqüidade, e aceita o que é bom; e ofereceremos como novilhos os sacrifícios dos nossos lábios... Eu sararei a sua infidelidade, eu voluntariamente os amarei; porque a minha ira se apartou deles”. Aqui Javé dá uma nova oportunidade a Efraim. O Seu AMOR prevalece, pois o amor é maior do que a Lei. Quando Efraim peca contra a Lei ele é cortado, mas quando peca contra o amor é destruído. A misericórdia deve triunfar sobre o juízo. Assim Oséias tem em essência a mesma teologia de Amós, somente que a demonstra com mais profundidade. Embasado no amor de Deus, Oséias é o profeta da GRAÇA. Ele antecipou o Calvário e em sentido muito real se preparou para isso, conforme o verso 14:9: “Quem é sábio, para que entenda estas coisas? Quem é prudente, para que as saiba? Porque os caminhos do SENHOR são retos, e os justos andarão neles, mas os transgressores neles cairão”. Isso quer dizer que quem deseja ser sábio, que estude a Bíblia e com ela aprenda: 1.que os caminhos de Javé são retos. 2. que os destinos dos homens são determinados pela sua atitude em relação à vontade divina.
VI - A mensagem de Oséias para nós - Oséias nos ensina uma lição geral de valor permanente: que a corrupção interior de uma nação coloca a sua existência em maior perigo do que os seus inimigos. Outra lição semelhante, estreitamente relacionada com esta, é que o patriota mais fiel é aquele que, como Oséias, identifica-se com o seu povo, sentindo tristeza por suas calamidade como se fossem suas, arrependendo-se dos seus pecados, como se ele próprio os tivesse cometido. A mensagem de Oséias, portanto, jamais se tornará obsoleta. O Deus da história antiga é o mesmo Deus da história moderna. Todos os eventos nacionais continuam sob a superintendência divina. Contudo, o Deus de Israel escolheu os Seus agentes, tanto nacionais como individuais.
Esta é a lição permanente ensinada por Oséias. Outras lições específicas são as seguintes:
1ª. - A loucura de sacrificar os interesses nacionais para ganhar vantagens pessoais. (Os 5:10-11).
2ª. - Sentir pesar e não tolerar o vício (Os 4:13-19).
3ª. - Declínio rápido de uma nação, quando se corrompem os ministros da religião, pois o verso 4:9 diz: “Por isso, como é o povo, assim será o sacerdote; e castigá-lo-ei segundo os seus caminhos, e dar-lhe-ei a recompensa das suas obras”.
4ª. - O castigo quando se descuida a lei de Deus – Versos 4:6 e 8:1,12: “O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; e, visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos... PÕE a trombeta à tua boca. Ele virá como a águia contra a casa do SENHOR, porque transgrediram a minha aliança, e se rebelaram contra a minha lei... Escrevi-lhe as grandezas da minha lei, porém essas são estimadas como coisa estranha”.
5ª. - O desejo paternal de mostrar misericórdia - “hesed”. Esta palavra hebraica, tantas vezes encontrada o Livro de Salmos, tem uma significação muito parecida com a palavra “graça” no Novo Testamento. Ela é usada seis vezes por Oséias (Oséias 2:9; 4:1; 6:6; 10:12; e 12:6), devendo ser traduzida por compaixão, misericórdia e bondade. Por isso Oséias é considerado “O Profeta do Amor”. Amós jamais empregou esse termo. Para Oséias ele tinha a mesma significação da expressão escocesa “graça leal”, isto é, amor com lealdade, incluindo tanto o amor a Deus como aos semelhantes. Oséias foi o evangelista no novo evangelho. “Se o Salmo 22 é o Calvário do Velho Testamento, Oséias é o seu Getsêmani”.  Ecos do profeta são ouvidos no Novo Testamento, ou seja, Oséias 11:1, em Mateus 2:15; Oséias 10:8, em Lucas 23:30; Oséias 2:23, em 1 Pedro 2:10; Oséias 6:6, em Mateus 9:13 e 12:7.
VII – Grandes passagens de Oséias - Isto é, textos dignos de serem mastigados, digeridos e relembrados.
1. - Oséias 6:6: “Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos”.  Esta passagem exercia um fascínio especial sobre Jesus, conforme Mateus 9:13 e 12:7: “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento... Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes”.
 2. - Oséias 11:8 - “Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como te faria como Admá? Te poria como Zeboim? Está comovido em mim o meu coração, as minhas compaixões à uma se acendem”. Talvez seja esta a passagem mais significativa do livro de Oséias.
3. - Oséias 6:3 - “Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao SENHOR; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra”. Esta é uma exortação notável demais para ter-se originado no século 8 a.C.
4. - Oséias 4:17: “Efraim está entregue aos ídolos; deixa-o”, para que não sejas contagiado por ele.
5. - Oséias 7:9b - “... também as cãs se espalharam sobre ele, e não o sabe”. Este é um sugestivo epigrama.
6. - Oséias 8:7: “Porque semearam vento, e segarão tormenta, não haverá seara, a erva não dará farinha; se a der, tragá-la-ão os estrangeiros”. Uma antecipação de Paulo Apóstolo, em Gálatas 6:7.
7. - Oséias 8:12: “Escrevi-lhe as grandezas da minha lei, porém essas são estimadas como coisa estranha”. Donde se conclui que no tempo de Oséias já existia uma volumosa literatura religiosa.
8. - Oséias 9:14: “Dá-lhes, ó SENHOR; mas que lhes darás? Dá-lhes uma madre que aborte e seios secos”. Estranha imprecação a ser encontrada nos escritos do “Profeta do Amor”. (Comparar com Oséias 13:14-16).
9. - Oséias 10:8 - “E os altos de Áven, pecado de Israel, serão destruídos; espinhos e cardos crescerão sobre os seus altares; e dirão aos montes: Cobri-nos! E aos outeiros: Caí sobre nós!”. Esta profecia é repetida em Apocalipse 6:16: “E diziam aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos do rosto daquele que está assentado sobre o trono, e da ira do Cordeiro” - pelo Apóstolo do Amor.
10. - Oséias 10:12 - “Semeai para vós em justiça, ceifai segundo a misericórdia; lavrai o campo de lavoura; porque é tempo de buscar ao SENHOR, até que venha e chova a justiça sobre vós”. Este verso se aplica a todas as gerações e em todos os tempos. Sem buscar o nosso Deus estaremos todos perdidos.
11. - Oséias 11:9 - “Não executarei o furor da minha ira; não voltarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; eu não entrarei na cidade”. Ele vai voltar, sim, mas para salvar o Seu povo.
12. - Oséias 13:4: “Todavia, eu sou o SENHOR teu Deus desde a terra do Egito; portanto não reconhecerás outro deus além de mim, porque não há Salvador senão eu”. Esta passagem é encontrada freqüentemente em Isaías 44-66.
13. - Oséias 14:9 - “Quem é sábio, para que entenda estas coisas? Quem é prudente, para que as saiba? Porque os caminhos do SENHOR são retos, e os justos andarão neles, mas os transgressores neles cairão”. Esta é uma indagação final, com as palavras de Ezequiel, Naum e Sofonias, respectivamente, resumindo o espírito de todo o ensino de Oséias.
14. - Aqui temos alguns epigramas notáveis, do tipo: “Como é o povo, assim será o sacerdote” (Oséias 4:9). “O rei de Samaria será desfeito como a espuma sobre a face da água” (Oséias 10:7). “Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor... (Oséias 11:4). “Efraim se mistura com os povos; Efraim é um bolo que não foi virado” (Oséias 7:8).

The Tweve Minor Prophets”, George L. Robinson
Publicado por George H. Doran Co, New York, 1926
Traduzido por Mary Schultze, março/abril 2004
Citações bíblicas da Bíblia Revisada FIEL de Almeida

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