I - Nome - Praticamente nada se
sabe do profeta, com exceção do seu nome e, mesmo assim, esse nome não é
mencionado em nenhuma outra parte da Bíblia, exceto na genealogia de
José, o suposto pai de Jesus (Lucas 3:26). Como muitos outros profetas,
Naum é apenas uma voz. Sem dúvida o nome que ele levou tem a sugestiva
significação de um “Consolador”.
II - Lugar de Nascimento - Ele é
apresentado como “Naum, o elcosita”, frase que, provavelmente, tem como
base designar o seu local de nascimento, embora, como sugere o Targum,
seja o nome dos seus antepassados.. Compare-se com “Elias, o tesbita” (1
Reis 17:1). A Septuaginta o chama de “Naum, o elquesita”. Quatro
conjecturas têm sido feitas a respeito do seu local de nascimento: 1. –
Al-Kush, uma vila que fica 38 Km ao norte de Mosul, em frente de
Nínive, a qual foi por muito tempo um sítio dos patriarcas nestorianos,
onde o seu sepulcro é reverentemente assinalado, tanto por cristãos como
por maometanos, e, especialmente, pelos judeus que ali residem. Se o
profeta viveu e profetizou ali, suas descrições gráficas de Nínive
seriam mais bem explicadas e seria ele, naturalmente, um membro das Dez
Tribos que foram levadas por Tiglate-Pilesser, em 734 a.C. Ewald aceitou
essa identificação. Contudo, a tradição que associa Naum com Al-Kush
não pode se atrasar além do século 6 a.C. Ain-Japhata, um povoado
situado ao sul da Babilônia, desde 1165 d.C., assinalou a Benjamim de
Tudela outro sepulcro tradicional de Naum. O Kause, uma pequena vila de
Galiléia setentrional (Jerônimo). Ainda Hitzig identificou Cafarnaum com
o local de nascimento do profeta, por causa do nome árabe Kefr-Nanhum
(A Cidade Naum). Compare-se, contudo, João 7:52. Elkese, “mais para lá
de Betogabra”, isto é, Beit Jibrim, fica 32 Km ao sul de Jerusalém, na
tribo de Simeão. Também na visão siríaca da obra “A Vida dos Profetas”,
datada de 367 d.C., atribuída erroneamente a Epifânio, Bispo de
Salamina. Também Cirilo de Alexandria e a Septuaginta. Nove quilômetros a
leste de Beit Jibrim, no Waldyes Sulk, existe na atualidade um poço
chamado pelos nativos de Bir-el-Kaus. Nestlé favorece essa
identificação. De fato esta parece ser a mais provável de todas as
identificações sugeridas. Porque às vezes Naum parece falar a partir do
ponto de vista de Judá. E como um profeta entusiasta, ele dá a entender
as circunstâncias locais (Naum 1:4, 15; 2:1 e 3:17).
III - Seu tempo - A data de Naum é
indicada com bastante clareza em Naum 3:8-10, versos que tratam da
queda de No-amón, isto é, Tebas, no Alto Egito, conforme já verificado, e
de Nínive, como coisa preste a se realizar. A primeira foi capturada
por Assurbanipal, em 663 a.C., e a última por Nabopalassar, em 606
a.C., ou então, conforme foi recentemente descoberto, em 612 a.C. O
período do profeta, portanto, estaria dentro desses limites.
Assurbanipal era extremamente
cruel. Ele até se jactava de sua violência e de suas atrocidades, como
arrancar os lábios e os membros dos reis, tendo forçado três governantes
de Elam, capturados, a puxar seus carros pelas ruas, compelido um
príncipe a levar pendurada ao pescoço a cabeça decapitada do seu rei, e
de como ele e sua rainha comiam no jardim com a cabeça de um monarca
caldeu, a quem obrigara a suicidar-se, pendurada numa árvore sobre eles.
Nenhum outro rei da Assíria se jactava de barbaridades tão desumanas e
atrozes. Conta-se que ao rumar para o Egito em uma de suas expedições,
vinte e dois reis lhe tributaram homenagem. Ali chegando, tanto em
Memfis, capital do Baixo Egito, como em Tebas, capital do Alto Egito,
eles foram roubados e cruelmente castigados. O pobre povo de Judá e
Jerusalém foi expectador de todas essas barbaridades. Em verdade eles já
haviam presenciado, por várias gerações, uma sucessão interminável de
invasões assírias à Palestina. Salmanasser II, em 842 a.C.;
Tiglate-Pilesser, em 734 a.C.; Salamasser IV e Sargão II, em 724-722 a.
C.; Senaqueribe, em 701. Esaardon, em 672, e agora Assurbanipal. E
parecia que o pior ainda estava por vir. Parecia que Naum e seus
compatriotas em Jerusalém estavam atados e impotentes nas mãos de um
inimigo cruel e tirano (Naum 1:15-2:2). Nínive ainda se achava no ápice
da glória (Naum 3:16,17). Pelo tom da profecia, podemos deduzir com
razão que a destruição de Tebas era um evento relativamente recente e
que a queda de Nínive ainda não havia acontecido, embora profeticamente
próxima. Por isso a data exata do ministério de Naum provavelmente não
foi antes de 650 a.C.
Se assim foi, na certa o profeta
exibiu um ousado vôo de fé, declarando a segura destruição de Nínive,
quando a nação ainda não mostrava sinal algum de declínio. Outras datas
propostas para as atividades de Naum, tais como a do reinado de
Ezequias, ou Joaquim, ou Zedequias, não estão seguramente atestadas
pelos eventos históricos. O esforço de Happel para atribuir Naum a uma
Escritura pseudo-epigráfica da era dos Macabeus é suficientemente
refutada pela menção prévia de “Os Doze Profetas” de Jesus ben
Sirac, em Eclesiástico 41:10, o qual floresceu em 180 a.C. Porém, seja
qual for a data correta do profeta, os anais assírios não deixam dúvida
de que por toda a história da nação os assírios sempre foram cruéis,
violentos e bárbaros, sempre jactando-se de suas vitórias,
regozijando-se de que “já não havia espaço para tantos cadáveres”, de
que “fizeram pirâmides de cabeças humanas” e de que “cobriam colunas com
as peles de seus rivais”. Foi sobre um povo assim que Naum foi ordenado
a pronunciar a destruição inexorável.
IV - Nínive - A cidade ficava no
lado oriental do Tigre, em frente à moderna povoação de Mosul. Foi
fundada por Ninrode de Babilônia (Gênesis 10:11) e dedicada
especialmente à deusa Istar. Era a capital dos reis da Assíria, de 1100
até 880 a.C., e em seguida, novamente, depois que Senaqueribe tornou-se
rei, em 705 e seguintes a.C. Era considerada, de fato, como a cidade
principal do império.
Nínive era três vezes
fortificada por muros e fossos, fortalezas e torres, tendo seus muros 12
Km de circunferência, sendo tão largos que sobre eles podiam trafegar 3
carros, lado a lado. Era essa Nínive a capital da raça de homens
provavelmente mais sensuais, ferozes e diabolicamente atrozes que já
existiram no mundo inteiro. Eram grandes sitiadores de homens, gritando
continuamente: “sítio, sítio, sítio!” Contudo, Naum declara que esses
mesmos sitiadores do mundo seriam no final sitiados (Naum 3:1 e
seguintes). As ameaças de Naum foram cumpridas de maneira
extraordinária. Esaradon foi o último rei de Nínive. Os medos com os
babilônios e outros derrubaram em primeiro lugar todas as fortalezas
existentes ao redor da cidade (Naum 3:12) e em seguida sitiaram a
cidade. Os ninivitas proclamaram um jejum de cem dias, tentando
apaziguar os seus deuses (Ver Jonas 3:15), mas apesar disso, a cidade
caiu. Kitesias descreve como a cidade sitiada passou sua última noite em
orgias e bebedeira, seguindo o exemplo do rei efeminado (Naum 1:10;
2:5). Para precipitar a catástrofe, o Tigre transbordou, abrindo brechas
nos muros, quando o rei, ao constatar a iminente ruína da cidade,
queimou-se vivo dentro do palácio (Naum 3:15-19) e a cidade foi saqueada
de todos o seu rico despojo, em seguida (Naum 2:10-14). Nínive caiu em
cerca de 611 a.C. Sua destruição foi completa. Na atualidade nada mais
resta da antiga cidade, além das grandes montanhas chamadas Konyunjik e
Nebi-Yunis. Tão completa foi em verdade a ruína de Nínive que apenas
Xenofontes reconheceu o local da mesma. Alexandre, o Grande, por ali
passou “sem saber que um império universal estava sepultado sob os seus
pés”. Luciano escreveu: “Nínive pereceu e não ficou um rastro sequer de
onde existira antes”. Gibbon narra que logo em 62 D.C., “a cidade e
ainda suas ruínas já há muito haviam desaparecido”. O viajante Niehbur,
em 1766, por ali passou sem saber. Somente depois que Layard e Botta
identificaram o local, em 1842, é que a cidade começou a ser reconhecida
pelo mundo moderno.
IV - Conteúdo - As profecias de Naum correspondem naturalmente a três grandes divisões: 1. - Capítulo 1 - Um canto de triunfo sobre a queda iminente de Nínive, um canto sublime. 2. - Capítulo 2 - O juízo que virá: “a guarda dos leões” da cidade será destruída; a defesa é impossível. 3. -
a iniqüidade da cidade: sua crueldade e avareza, sua diplomacia
desonrada, sura prostituição e sua traição. Por isso, diz o profeta,
Nínive há de cair totalmente, sob os aplausos das nações, nada restando
para a consolar. O poeta parece regozijar-se muito com essa destruição.
V - Forma poética - Conforme sua estrutura poética o livro pode ser dividido em oito versos de tamanho quase igual.
1. - Capítulo 1:2-6 - Uma descrição de Javé vingador, o qual não deixará impune o crime.
2. - Capítulo 1:7-12 - Para ser fiel ao seu povo, Javé precisa destruir Nínive.
3. - Capítulo 1:13 a 2:2 - O livramento prometido a Judá e o juízo prometido a Nínive.
4. - Capítulo 2:3-8 -
Uma serie de brilhantes descrições da captura da cidade; fora, os
inimigos brandindo gloriosamente suas armas, carros correndo pelas ruas,
brilhando como relâmpagos. Contudo, ai, ai, ai, tarde demais! As portas
foram abertas e seus guerreiros deram as costas, fugindo às pressas. A
rainha foi feita cativa e suas donzelas se lamentavam, batendo no peito.
5. - Capítulos 2:9 a 3:1 - Os habitantes se enchem de grande terror: de “joelhos trêmulos”. A cidade sanguinária, antes cheia, agora é saqueada.
6. - Capítulo 3:2-7 -
Novos carros correm contra a cidade condenada. Nada os atrapalha,
exceto as montanhas de cadáveres que enchem as ruas da cidade. A
desavergonhada rameira está prostrada e desnuda.
7. - Capítulo 3:8-13 – Assim, No-amón se rendeu; assim também terá de fazê-lo Nínive. Não há como escapar.
8. - Capítulo 3:14-19 -
A resistência será em vão. Como a locusta devoradora, virão os
inimigos de Nínive. De fato, seu rei já pereceu e o seu povo se encontra
esparso como ovelhas sem pastor. Ao ver a sua queda, as nações se
regozijam.
Quanto à forma poética, o livro
de Naum é um dos mais lindos de todo o Velho Testamento. Nenhum outro
profeta, exceto Isaías, pode-se dizer que se iguala a Naum em arrojo,
ardor e sublimidade. Suas descrições são sumamente vivas e impetuosas.
Sua linguagem é forte e brilhante, seu ritmo tem o estrondo do trovão,
saltando e brilhando como um relâmpago, quando ele descreve os homens a
cavalo e os carros. Por consenso geral, Naum é considerado um dos
mestres do estilo hebraico. Sua excelência suprema não é a emoção, mas o
poder de descrição, o qual, pelo seu indômito vigor e cor
resplandecente, pelo expressivo, pinturesco e dramático de sua
fraseologia, jamais foi superado.
VII - Mensagem - O profeta
realmente resume a sua mensagem em Naum 1:7-9. Ele é preeminentemente um
profeta que tem uma só idéia - a destruição de Nínive. Convencido de
que Javé, mesmo sendo tardio e irar-se, não deixará de se vingar dos
seus adversários, Naum projeta a luz do governo moral de Deus sobre
Nínive, entoando o canto fúnebre do opressor maior do mundo. É o castigo
do Senhor, por tanto tempo adiado, mas que é seguro e será completo e
final.
Naum se diferencia notavelmente
dos seus predecessores, bem como dos seus contemporâneos - Jeremias e
Sofonias - os quais visavam primeiramente a reforma de Israel. Em vez
disso, o estribilho ou refrão de sua mensagem é uma certa forma de
ardente indignação, a qual quase se assemelha a animosidade e vingança,
expressando os sentimentos reprimidos dos seus compatriotas, os quais
têm sofrido perseguições durante gerações, sentimentos que agora
crepitam como chamas de fogo sobre o inimigo nacional de Israel. É a
humanidade ultrajada que desperta e pede vingança. Duas vezes se escuta o
refrão que diz: “Eis que eu
estou contra ti, diz o SENHOR dos Exércitos, e queimarei na fumaça os
teus carros, e a espada devorará os teus leõezinhos, e arrancarei da
terra a tua presa, e não se ouvirá mais a voz dos teus mensageiros” (Naum 2:13 e 3:5).
VIII - O valor de sua mensagem para nós - Três importantes lições ensinadas implicitamente por Naum são de fato permanentes:
1. - A universalidade do governo divino.
2. - Seu caráter de retribuição.
3. - Sua subordinação ao plano da graça.
Lições como essas jamais podem
se tornar antiquadas. Supõe-se que Naum, em primeiro lugar, falava à sua
própria geração. Contudo, ele expressou os seus pensamentos de modo a
se adaptarem às necessidades e consolo dos homens em todas as eras. Ele
mostra que a destruição de Nínive não é um ato de soberania caprichosa,
mas uma justa retribuição de suas iniqüidades. Quando interpretamos de
maneira escatológica o seu livro, como devemos fazer, este adquire um
valor incomparavelmente mais alto em relação ao que agora lhe tem sido
geralmente atribuído. Ele não é o produto de um mero ódio nacional, mas
um hino, ao mesmo tempo poético e divino, do que inexoravelmente há de
se realizar na história. Não é o orgulho de Israel que tem de
defender-se, nem a rendição do seu povo, que vem primeiro, mas a
vindicação do seu Deus. Em outras palavras, a grande lição do livro é
que Deus jamais deixa de castigar a iniqüidade nacional e pessoal. Ele
age com as nações do mesmo modo como age com os indivíduos. Como e lê em
Tiago 1:15: “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte”.
O gozo de Naum, repetimos, não é meramente a exultação de um patriota
irritado sobre o inimigo vencido, mas antes a expressão alegre de uma
sólida fé no Deus de seus pais. Para ele a destruição de Nínive estava
subordinada à misericórdia salvadora que Javé precisava mostrar ao seu
povo e, por meio deste, ao mundo inteiro.
Seu oráculo é essencialmente, embora não explicitamente, messiânico, conforme Apocalipse 19:10: “...porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia”. E de Atos 3:24: “Sim, e todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram, também predisseram estes dias”.
Quando assim interpretamos o oráculo do profeta, este se torna uma
mensagem de consolo, conforme o significado do seu nome. Ele não apontou
claramente para o Redentor. O que ele fez foi preparar o seu povo para
um tempo em que havia a probabilidade deste ceder ao desespero. Naum viu
que o reino das trevas teria de cair, antes que se apresentasse o reino
da luz. A destruição de Nínive, portanto, deveria acontecer antes de
ser inaugurado o reinado do Príncipe da Paz. Mensagem como esta tem
valor para todos os tempos e para tudo que sobreviva ao espírito de
Nínive [Sadam Hussein e Bin Laden, por exemplo].
Mesmo que o livro não esteja em contraste com o caráter gracioso do
Novo Testamento, nem seja citado por nenhum dos seus escritores, o
Espírito Santo tem ensinado implicitamente que todo poder temporal deve
cair, antes que venha o Reino de Deus.
IX - Passagens importantes -
Certas passagens são especialmente preciosas e, a menos que as
assinalemos e lhes demos ênfase, existe o perigo de que nos passem
despercebidas, neste livro que talvez tenha sido pouco lido.
1. - Verso 1:3 – “O
SENHOR é tardio em irar-se, mas grande em poder, e ao culpado não tem
por inocente; o SENHOR tem o seu caminho na tormenta e na tempestade, e
as nuvens são o pó dos seus pés”. Uma sugestão do provérbio italiano: “Deus não costuma remunerar o sábado”.
2. - Verso 1:7 - “O SENHOR é bom, ele serve de fortaleza no dia da angústia, e conhece os que confiam nele”.
3. - Verso 1:15 - “Eis
sobre os montes os pés do que traz as boas novas, do que anuncia a paz!
Celebra as tuas festas, ó Judá, cumpre os teus votos, porque o ímpio
não tornará mais a passar por ti; ele é inteiramente exterminado”.
Aqui se lê sobre o arauto da salvação temporal e espiritual. Talvez o
original desta passagem seja a forma ampliada de Isaías 52:7: “Quão
formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que
faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que
diz a Sião: O teu Deus reina!”
4. - Verso 2:10: “Vazia,
esgotada e devastada está; derrete-se o seu coração, e tremem os
joelhos, e em todos os lombos há dor, e os rostos de todos eles
enegrecem.”
Como todos os profetas do Velho
Testamento, Naum gosta de usar o jogo de palavras. Mofat procura
reproduzir o Hebraico, traduzindo assim: “Esta devastada, desolada e infeliz, desmaiando-lhe o coração e tremendo-lhe os joelhos”.
“The Tweve Minor Prophets”, George L. Robinson
Publicado por George H. Doran Co, New York, 1926
Traduzido por Mary Schultze, março/abril 2004
Citações bíblicas da Bíblia Revisada FIEL de Almeida
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