I - Nome e Genealogia - Outros
dois Sofonias, além do profeta, são mencionados no Velho Testamento: um
coatita, antepassado de Hemã, o cantor (1 Crônicas 6:36); o outro, um
segundo sacerdote, contemporâneo de Jeremias (2 Reis 25:18; Jeremias
21:1; 37:3). Etimologicamente o nome significa “Aquele a quem Javé tem
escondido e protegido” (Comparar com o Salmo 27:5), uma significação
especialmente apropriada à mensagem do profeta. Com efeito, sua
personalidade é demonstrada em sua mensagem. Como nos casos de Isaías,
Jeremias, Joel e Zacarias, o mesmo acontece com a genealogia de
Sofonias, a qual sem dúvida traz detalhes inusitados, como sendo
tataraneto de Ezequias, o qual, provavelmente era o rei de Judá, pois de
outro modo não haveria motivos racionais para atrasar a sua genealogia
em quatro gerações. Que Sofonias pertenceu a um ramo da família real é
cronologicamente possível, visto como Manassés, filho de Ezequias, tinha
45 anos quando lhe nasceu o filho Amon (2 Reis 21:1, 19). Nesse caso,
Ananias, irmão de Manassés, poderia facilmente ter tido um neto (Cusi) e
por isso Sofonias ter tido tantos anos como Josias. Se, pois, Sofonias
tinha sangue real, suas censuras sobre os príncipes e outros potentados
de Jerusalém (Sofonias 1:8-9) se tornam mais interessantes e muito mais
pertinentes. Evidentemente, ele viveu em Jerusalém, conforme indica a
sua familiaridade com “a porta do peixe” e o “Morteiro” (provavelmente
algum bairro especial de negócios da cidade) (Sofonias 1:11),
especialmente a sua referência “deste lugar” (Sofonias 1:4).
II - Período e Data - O título do
livro declara que Sofonias profetizou “nos dias de Josias” (639-608 a.C)
e com essa declaração o conteúdo do livro está de pleno acordo. Nada
existe no livro que justifique a mais débil suspeita de que ele não
tenha pertencido a esse período. Sem dúvida, mesmo condenando o povo
pela sua idolatria e corrupção, violência e injustiça, a plena verdade é
que ele se desprende de toda a história, pois o caráter universal de
sua mensagem exclui o trato completo de eventos históricos. Com efeito
não se pode dizer que Sofonias tivesse falado claramente de pânico ou
perigo particular, tal como a invasão escita, que veio sobre a
Palestina, mais ou menos nesse tempo, 627 a. C., (Heródoto 1:104 e
seguintes), ainda que isto seja possível. Sofonias, de preferência, se
mostra cuidadosamente indefinido acerca de todos os eventos do seu
tempo.
Sem dúvida, se ele profetizou
antes do descobrimento do Livro da Lei, no oitavo ano do reinado de
Josias, em 621 a.C. (2 Reis 22:8), como crê a maioria dos eruditos
modernos, ou depois desse importante evento, como crêem outros, vai
depender em grande parte da interpretação que teremos das seguintes
referências: 1) – “ o restante de Baal” (Sofonias 1:4),
que parecia colocá-lo pelo menos depois do décimo segundo ano de Josias,
quando este começou as reformas (2 Crônicas 34:3). 2) - “e os filhos do rei” (Sofonias 1:8). Será que o rei Josias já tinha filhos com apenas 20 anos de idade? (2 Reis 22:1-3). 3) -
A ameaça do profeta de que Nínive vai ser destruída e desolada
(Sofonias 2:13-15) nada tem a ver com o rancor de Naum. Desse modo,
Sofonias pode ter vivido um pouco antes de Naum. 4) – “fizeram violência à lei”.
Esta passagem poderia indicar um tempo depois da reforma de Josias, em
621 a.C. Contudo, Jeremias faz alusão a “os sacerdotes” e à lei, no
exato princípio do seu ministério (Jeremias 2:8), sendo que este e
Sofonias eram contemporâneos próximos, tendo começado a pregar em 626
a.C. Por isso podemos dizer que Sofonias profetizou entre os anos 12 e
18 do reinado de Josias, ou em cerca de 625 a.C.
III - Conteúdo - Três fases distintas podem ser descobertas no livro de Sofonias, quando tratamos do seu único e grandioso tema do Dia (vindouro) de Javé.
1. - Ameaças e Juízos –
(Capítulo 1) - Anunciando com juízos e ameaças o dia da ira do Senhor, a
qual englobará toda a terra, mas que foi dirigida particularmente aos
idólatras e apóstatas de Judá e Jerusalém.
2. - Admoestações dirigidas às nações -
(Capítulo 2) Filístia, Moabe, Amon, Etiópia e Assíria. Estas são
seguidas de uma fervorosa admoestação contra Jerusalém, para que se
arrependa, a fim de escapar do castigo destinado aos pecadores
voluntários (Sofonias 3:1-7).
3. - Ânimo e promessas -
(Capítulo 3:8-20) - Haverá salvação para os arrependidos, especialmente
para o “remanescente de Israel”, o qual gozará de fama universal como o
redimido de Javé, morando para sempre em sua presença.
IV - Tema - O grande e único tema de Sofonias é o vindouro “Dia do Senhor”,
quando Ele se revelará em sua plenitude ao mundo inteiro, julgando os
malfeitores e cumprindo o seu propósito de redenção entre nós. Contudo, o
juízo não é considerado por Sofonias como um fim em si mesmo. Antes,
ele é um meio de Javé se dar a conhecer ao mundo, iniciando o seu reino
de salvação. Portanto, o seu tema é, de um certo modo, escatológico,
tratando da “consumação do século”.
Para Sofonias o “Dia do Senhor”
não significa tanto um dia de juízo diante do Juiz, como um dia de
batalha, um conflito apocalíptico que está para vir. O povo estava
“assentado sobre as sua fezes”, isso é, se havia corrompido e tornado
egoísta, com a sua vida estagnada no indiferentismo, o qual era pouco
melhor que o ateísmo, e por isso a matança e a destruição o esperavam.
Os hóspedes de Javé já estão convidados para o grande sacrifício e tudo
vai ser queimado. “Um dia de indignação” (Sofonias 1:15). Este
texto serviu de base aos mais notáveis hinos medievais “Dies Irae, Dies
Illa” - “Dia de Luto”. Porque a nota de condenação de Sofonias parece
haver ecoado pelos séculos, até cair nos ouvidos do franciscano Tomás de
Celano, um monge italiano do século 13. Como resultado transformou-se
num poema de 19 versos, entregue ao mundo como reconhecida obra prima,
tão terrível em sua grandeza e tão intensa em seu fervor e tristeza que
nela ouvimos algo como “o estrondo final do universo”. A mensagem de
Sofonias pode ter ajudado na reforma de Josias. Pois ele dirigiu os
seus golpes contra o sincretismo religioso - uma mistura do culto a
Baal, Milcon e as estrelas - exortando o seu povo a buscar a mansidão e
justiça, prometendo que, se o fizesse, tudo iria acabar bem. Não é justo
dizer que sua mensagem é totalmente negativa e destrutiva. Essa
declaração é verdadeira somente quando as porções promissoras são
separadas de uma crítica lógica e científica.
V - Valor - O livro de Sofonias,
mesmo pequeno, é valioso. Muitos deixam de apreciá-lo e a maioria de nós
passa desapercebida, como se ele fosse despojado de texto para o
púlpito. Ao contrário, ele tem valor permanente e como livro não deve
ser subestimado pelo seu tamanho. Aqui temos alguns dos seus ensinos
permanentes:
1. - A necessidade constante de admoestação –
(Sofonias 1:14-16) - Sofonias deu o exemplo a todos os ministros
modernos de como devem relembrar aos homens as terríveis realidades do
mundo moral.
2. - O tom moral profundamente sério que permeia todo o livro -
Sofonias é profundamente sensível aos pecados do seu povo e à
necessidade moral que impele Javé a visitá-lo com disciplina e juízo.
Seu evangelho é conciso e austero. Uma mudança moral é necessária
(Sofonias 3:7-13).
3. - A natureza espiritual do reino de Deus
- (Sofonias 3:14-20) - Esta seção é um dos apocalipses do Velho
Testamento. É o melhor do livro e contém duas promessas maravilhosas: a)
- “Javé está no meio de ti” (Sofonias 3:15-17). b) - “Farei de vós um nome e um louvor entre todos os povos da terra”
(verso 20), porque depois da tribulação vem a glorificação. O cativeiro
de Judá será removido e tudo acabará bem. Judá será salvo ainda que
“passando de raspão pelo fogo”.
O remanescente de Judá gozará de
uma modesta idade áurea. Mesmo não havendo aqui uma explícita
referência a um Messias pessoal, sem dúvida não faremos mal em crer que,
o que quer que tenha sido visto na visão apocalíptica do profeta, suas
palavras apontam para o grande livramento da obra de Cristo. Mais
notável é o fato de que o seu conceito de reino celestial inclui toda a
humanidade.
VI - Estilo - O estilo de Sofonias
é direto e forte, portanto de acordo com o caráter imperativo de sua
mensagem. O que lhe falta em graça e encanto, até certo ponto, é suprido
de vigor e clareza de linguagem. Nenhum outro profeta tornou mais real a
descrição do “Dia do Senhor’. O estrondo da ira divina, cantado
hoje em todo o mundo musical como réquiem, deixa ressoarem os ecos
poderosos e fúnebres de uma visão drástica, tão musicais e tão famosos
que nenhum tradutor pode vertê-lo para outro idioma sem uma grande
perda. Budda foi o primeiro a reconhecer que a maior parte do livro foi
escrita nesse ritmo ou metro elegíaco. Para um anúncio de castigo e
aflição, este gênero de poesia que leva o acento na 3ª. e na 5ª. sílabas
de cada linha, é o metro adequado. Com exceção de Sofonias 3:8-11, todo
o livro está praticamente metrificado dessa forma. Em Sofonias 3:11-13,
temos uma passagem de estranha beleza.
Sofonias é talvez menos original
que a maioria dos outros profetas. Ele mostra afinidade com os seus
predecessores, especialmente com o estilo de Isaías. Sem dúvida a
corrente do seu discurso flui mansa e gravemente. Suas repetições de
palavras e frases servem para acrescentar ênfase. Ocasionalmente, ele se
vale do jogo de palavras, por exemplo, em Sofonias 2:4: “Porque Gaza será desamparada, e Ascalom assolada; Asdode ao meio dia será expelida, e Ecrom será desarraigada”. Alguns dos seus epigramas são muito notáveis, como por exemplo: “E
há de ser que, naquele tempo, esquadrinharei a Jerusalém com lanternas,
e castigarei os homens que se espessam como a borra do vinho, que dizem
no seu coração: O SENHOR não faz o bem nem faz o mal” (Sofonias 1:12). “...e santificou os seus convidados” (Sofonias 1:7). “ó nação não desejável” (Sofonias 2:1). “... porque toda esta terra será consumida pelo fogo do meu zelo”
(Sofonias 3:7). Dizem que se alguém deseja ver as declarações dos
profetas sucintamente expressadas, deve ler o curto livro de Sofonias.
Diz Ewald: “O que é novo em Sofonias é especialmente o amplo
conhecimento que ele tem de todas as terras e nações e a percepção dos
assuntos espirituais de toda a terra”.
“The Tweve Minor Prophets”, George L. Robinson
Publicado por George H. Doran Co, New York, 1926
Traduzido por Mary Schultze, março/abril 2004
Citações bíblicas da Bíblia Revisada FIEL de Almeida
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